“Na escola, uma menina disse que meu cabelo é ruim.”
Amuada num canto, com lágrimas nos olhos, Júlia (Sabrina Nonata) revelou o motivo de sua tristeza para a mãe, Regina (Camila Pitanga).
A cena foi exibida no capítulo de sábado (30). É o dia da semana no qual mais crianças estão diante da TV na faixa das 22h.
Para levantar a autoestima da filha, Regina elogiou seus cabelos crespos e a informou sobre a lei brasileira que pune o racismo com prisão.
Emocionada, ela citou a advogada Paula (Sheron Menezes) como exemplo de mulher negra que enfrenta o preconceito de cabeça erguida.
Diante de seu reflexo num espelho, Júlia recebeu elogios da mãe e da avó, Dora (Virgínia Rosa): “Você é toda linda”. As três se abraçaram, solidárias no drama e na força para combatê-lo.
Em outra sequência, Regina desabafou com o namorado, Vinícius (Thiago Fragoso). “Hoje a Júlia conheceu o que é racismo”, disse, abatida.
Após relatar o episódio de discriminação na escola da filha, ela explicou: “Parece besteira, mas não é besteira, não. Porque dói”.
Pouco antes, aconteceu outra abordagem sobre o racismo em Babilônia. Num salão de beleza, Paula foi abordada pela cabeleireira Ivete (Mary Sheila).
Sem sutileza, ela sugeriu alisar e tingir de loiro os cabelos crespos e escuros da advogada. “Com esse cabelo aí, você só vai conseguir caso de ONG e de porta de cadeia”, desdenhou Ivete, também negra, ostentando seus fios lisos.
Paula indignou-se: “Não vou ser arremedo de gringa”. E disse mais. “Sou negra, brasileira e tenho orgulho do meu cabelo e da minha cor.”
Não é a primeira vez que a novela lança ao público o tema do racismo. Regina já foi insultada por Inês (Adriana Esteves), cara a cara e pelas costas. A advogada a chamou várias vezes de ‘cabocla metida’ e ‘caboclinha favelada’.
Personagem racista: “Negro safado”
Gilberto Braga, um dos autores principais de Babilônia, inseriu a discussão sobre o racismo em outras novelas.
Um dos casos de maior repercussão aconteceu em Pátria Minha, folhetim de 1994. A postura submissa de um personagem negro gerou polêmica nacional.
A trama: o empresário Raul Pellegrini (Tarcísio Meira) acusa injustamente um empregado de sua casa, Kennedy (Alexandre Moreno), de abrir um cofre e furtar documentos.
Diante da negativa do rapaz, Raul o xinga de ‘moleque mentiroso’, ‘negro insolente’ e ‘negro safado’. Choroso e amedrontado, Kennedy não consegue se defender.
“Pensa que eu acredito em crioulo? Vocês, quando não sujam na entrada, sujam na saída”, vocifera o patrão.
O pensamento racista de Pellegrini ganha aspecto baseado na eugenia. “Por que fez isso, Kennedy? Foi vingança porque não te deixei estudar? Estudar pra quê? Aprender o quê? (…) Você não sabe que o cérebro de vocês (negros) é diferente do nosso?”.
Grupos de combate ao racismo criticaram duramente o comportamento passivo de Kennedy diante das ofensas racistas. O complexo de inferioridade do personagem foi visto como humilhante por ativistas do movimento negro.
O autor, ao invés de ser parabenizado pela denúncia do preconceito, acabou crucificado na imprensa. Houve até ação judicial contra a Globo.
Algumas semanas depois da cena controversa aconteceu uma espécie de retratação na novela. Num diálogo de Kennedy com uma personagem também negra, ressaltou-se a importância do resgate da autoestima dos negros e de reagir a qualquer ato de discriminação.
A cena de Raul Pellegrini e Kennedy está disponível no site Memória Globo.
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