terça-feira, 18 de novembro de 2014

Cultura afro-brasileira

Apresentar artistas afro-brasileiros pode ser um bom gancho para discutir outros temas das relações étnico-raciais



No passado e no presente, as manifestações culturais representam uma forma de resistência. Para os escravizados, preservar a língua, as músicas, as histórias e a religião trazidas da África significava não aceitar passivamente sua condição. Hoje, os movimentos negros utilizam a cultura também como uma demarcação de sua identidade e, por consequência, de sua luta. Apesar disso, muitas de suas manifestações não são conhecidas da maior parte da população. Por isso, é importante apresentá-las à turma.
A ideia do Brasil como um país miscigenado, que predominou durante boa parte do século 20, teve consequências também na negação da participação negra no que se convencionou chamar cultura brasileira. Diversas manifestações típicas dos descendentes de africanos, como o samba, foram incorporadas à perspectiva nacional e não são reconhecidas mais como originadas em grupos específicos. “A partir da década de 1930 no Brasil, houve um processo de clareamento de uma série de elementos culturais identificados com o protagonismo negro. Assim, o batuque e a feijoada deixaram de ser coisas de escravos e se tornaram símbolos nacionais, da mesma forma a capoeira, que não mais foi reprimida pela polícia, sendo considerada modalidade esportiva nacional”, explica Juliano Custódio Sobrinho, professor da Universidade Nove de Julho (Uninove).
Até hoje, discute-se a existência ou não de uma cultura negra. “A cultura não tem cor, mas é importante discutir quem produz e também o contexto em que ela é feita”, explica Martha Abreu, docente da Universidade Federal Fluminense (UFF). Portanto, o material selecionado para trabalhar esse tema com as turmas deve ser aquele produzido por artistas e intelectuais negros. (Veja exemplos de personalidades de diversas áreas no quadro abaixo.)



Os hábitos dos próprios alunos podem ser o ponto de partida do trabalho. “Muito do que eles consomem – e até produzem – tem influência negra, como o funk e o rap”, explica Paola Prandini, fundadora da Afroeducação. A partir do que eles gostam, é possível discutir e ampliar o repertório dos alunos, apresentando outros artistas.
Ao lidar com músicas, textos ou filmes produzidos por negros ou que tratem da questão racial, a turma precisa refletir sobre alguns tópicos: quem produziu determinado conteúdo, em que contexto e com qual finalidade. Nesse momento, podem surgir aspectos importantes da história do país e dos afro-brasileiros. Por exemplo: na canção Haiti, Caetano Veloso faz um retrato de como ele enxerga o tratamento dado aos negros e sua posição na sociedade. Já em Que Bloco É Esse?, do bloco Ilê Aiyê, a valorização da cultura negra pode ser discutida, principalmente com base nos versos: “Branco, se você soubesse o valor que o preto tem/Tu tomavas banho de piche, branco, e ficava negrão também”.

Intelectualidade e ciência

Diversos cientistas, intelectuais e pensadores importantes na história do país também são negros. Apresentá-los, assim como suas produções, também pode ser uma boa maneira de mostrar a presença desse segmento da sociedade em diversos campos de atuação. Alguns exemplos: Manuel Querino (historiador), Antonio e André Rebouças (engenheiros), Milton Santos (geógrafo) e Juliano Moreira (médico e psiquiatra). Conheça outros no site do Instituto Geledés.

http://revistaescola.abril.com.br/consciencia-negra/africa-brasil/cultura-afro-brasileira.shtml

África e Brasil:unidos pela história e pela cultura

A costa oeste africana e o litoral brasileiro já estiveram conectados. Há 200 milhões de anos, os dois territórios começaram a se separar e assumiram as atuais posições, afastados milhares de quilômetros pelo Oceano Atlântico. O mar que os separa é também o responsável pela ligação entre eles nos tempos modernos: 4,4 milhões de africanos o cruzaram contra a vontade entre os séculos 16 e 19 em direção ao Brasil. Essas pessoas tiveram um papel importante na construção do nosso país. “A África está em nós, em nossa cultura, em nossa vida, independentemente de nossa origem pessoal”, defende Mônica Lima e Sousa, coordenadora do Laboratório de Estudos Africanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Leáfrica/UFRJ), no artigo História da África, publicado na Revista do Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Por isso, as tradições, a cultura e a trajetória dos descendentes dos africanos escravizados compõem um objeto de estudo importante para todas as crianças e os jovens, negros ou não.
O tráfico negreiro e a escravidão determinaram o presente do nosso país. A população vinda do continente africano criou aqui raízes, família, cultura, história. Hoje, 53% dos brasileiros se declaram pretos ou pardos, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013. Esse grupo é grandemente desfavorecido. Dados tabulados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) comprovam: eles são a maioria dos analfabetos, com a maior taxa de distorção idade-série, e o trabalho infantil é mais comum entre eles do que entre brancos (veja gráficos abaixo).

Desigualdades entre brancos e negros no Brasil


Infográfico Racismo no Brasil Créditos: Vilmar Oliveira

Apesar de a legislação valer há mais de dez anos, ainda são poucos os casos em que ela é bem incorporada ao cotidiano das escolas. Uma pesquisa realizada por diversos órgãos (leia o artigo com os resultados aqui) aponta os principais entraves para a efetivação dela: há escassa formação sobre o assunto, poucos docentes conhecem a norma e muitos não a consideram legítima. “O processo de implementação enfrenta resistências e obstáculos pelos mesmos motivos que justificam a existência da lei: no Brasil, há um racismo silencioso que desqualifica o debate sobre a discriminação”, explica André Lázaro, pesquisador da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso).

Mudar esse cenário requer trabalho em diversas frentes, das políticas públicas ao cotidiano da sala de aula. As redes precisam oferecer formações e debater o tema para que os administradores das escolas incentivem a incorporação dele em diversos âmbitos e os professores incluam conteúdos relacionados à história e à cultura africana e afro-brasileira em suas aulas. “A prática nas instituições também deve estar articulada aos projetos de formação”, afirma Rodrigo Ednilson de Jesus, docente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos envolvidos na pesquisa sobre a implantação da lei. Para repensar as próprias práticas e posições, os docentes devem observar suas atitudes e expectativas em relação aos alunos com diferentes cores de pele. Será que há tratamentos distintos para alunos negros e brancos? Todos recebem atenção, carinho e elogios? O primeiro passo para superar o racismo silencioso é justamente combater o discurso de que não há racismo. Em entrevista a NOVA ESCOLA, o historiador francês Pap Ndiaye afirma: “É necessário que as práticas sejam coerentes com a fala. Os educadores, por exemplo, podem ter comportamentos discriminatórios ao orientar os estudantes sobre as possibilidades de carreira. Para as de ensino técnico, muitos encaminham os alunos que não são brancos. Para os demais, por sua vez, é recomendado um curso universitário. A escola não está imune à discriminação".

Na sala de aula, não basta só problematizar atitudes racistas vindas dos alunos ou da comunidade escolar mas também rever o conteúdo ministrado. O objetivo deve ser desconstruir visões estereotipadas sobre africanos e afro-brasileiros e mostrar a importância deles na construção das sociedades contemporâneas. Para isso, é fundamental tratar do protagonismo desses grupos em diversos momentos da história, representando-os como seres humanos que criaram laços familiares, produtos culturais e que têm trajetórias próprias na história.

Neste especial digital, apresentamos os principais eixos de conteúdo que o professor pode abordar com as turmas de Ensino Fundamental: Identidade Negra, História da África, A luta dos negros no Brasil, Cultura afro-brasileira, e Recursos Pedagógicos, uma seleção de materiais de referência para apoiar a sua formação e para trabalhar em sala. (Use o menu superior para navegação entre as seções).

A incorporação do tema ao projeto político-pedagógico, a influência do contexto local em uma escola baiana e um projeto bem elaborado por um professor são contados na reportagem de capa da revista NOVA ESCOLA de novembro, que estará nas bancas a partir do dia 12 de novembro.
http://revistaescola.abril.com.br/consciencia-negra/africa-brasil/

Exposição de maquetes de Espaços Sagrados na E. M. Dom Manuel da S. D'elboux. Parabéns professora Marina!


Amo o trabalho desta por excelência de profissional!!!Trabalhar Espaços Sagrados  com conhecimento e entusiasmo !!!