O Sagrado e Profano na Semana Santa
Parte I: Introdução.
Esta pratica investigativa tem como objetivo analisar o sagrado e o profano na Semana Santa e como isto se relaciona, mas para que possamos fazer esta trabalho de campo, primeiramente é preciso saber o significado da Semana Santa para o catolicismo que é uma das religiões que mais da importância à este período.
A Semana Santa é a semana que antecede a Páscoa, que, para os católicos, simboliza o dia da ressurreição de Jesus Cristo. O primeiro dia da Semana Santa é o Domingo de Ramos no qual, na igreja é feita uma leitura da entrada de Jesus Cristo em Jerusalém para comemorar a Páscoa dos Judeus: o Pessach. Simbolizando a data, os Padres benzem ramos de oliveiras e palmeiras e os fiéis são convidados a pensar sobre o sofrimento de Cristo em seu caminho para o Calvário.
A Quinta-feira Santa é o dia que se comemora a santa ceia de Cristo onde é instituída a Eucaristia, que significa um dos sete sacramentos da igreja católica, no qual Jesus Cristo se acha presente sob as aparências do pão e do vinho, com o seu corpo, sangue, alma, divindade e comunhão, há ainda a cerimônia do Lava-pés, que representa uma lição de humildade, pois, ao lavar os pés de seus discípulos, Jesus mostra que o centro da missão cristã é o serviço. A Sexta-feira da Paixão é o dia onde o católico mais se resguarda, é um dia reservado para o silencio e a reflexão, pois é o dia em que Jesus sofreu e morreu por nós, meros pecadores, os católicos ficam sem comer carne vermelha, na igreja é lido o relato da Paixão de Cristo, comunga-se as hóstias consagradas na noite anterior e fazem-se procissões Via-Sacra com 15 estações.
No Sábado de Aleluia, ao meio dia, é feita a “Malhação do Judas” onde é feito um boneco representando Judas e as pessoas lincham ele devido a sua traição à Jesus, a noite é realizada a Vigília Pascoal onde os fiéis aguardam a ressurreição de Cristo. No domingo é a Páscoa, ou seja, a ressurreição de Cristo para os católicos, mas muitas das tradições ligadas à Páscoa originaram-se das festas pagãs, celebrando a chegada da primavera. Outras vêm da celebração do Pessach, a Páscoa judaica que comemora a saída dos judeus do Egito conduzidos por Moisés durante o reinado do faraó Ramsés II, representando a passagem da escravidão para a liberdade.
Conhecendo melhor o significado da Semana Santa podemos começar este trabalho de campo que vai focar o relacionamento do sagrado e do profano observando um grupo de pessoas que aproveitam este feriado para se isolar e ter momentos de lazer.
Parte II:Apresentação Detalhada do Objetivo do Trabalho.
O dia observado por mim dentro da Semana Santa foi a sexta-feira da Paixão, mas antes de começar a relatar como foi o dia, primeiro é necessário mostrar o cenário observado. Na realidade eu e minha família, como é de costume, fomos passar o feriado de quinta, sexta, sábado e domingo santos em um sítio de lazer. Minha família seguiu um tempo a religião evangélica, por isso, na Semana Santa não são feitos os mesmos rituais e não temos os mesmos costumes que os católicos, mas de um tempo pra cá a maioria dos meus familiares se “desviaram” caminhos do senhor, por isso eles não se privam de coisas proibidas pela religião como, por exemplo, beber bebidas alcoólicas, fumar, jogar baralho, falar palavrão e todas as outras coisas consideradas profanas e pecaminosas pela religião, mas há aqueles que ainda são fiéis á igreja, mesmo sendo a minoria, por isso são mais conservadores.
Além disso, convidamos alguns amigos, a maioria deles “não-religiosos”, mas também foram convidados duas pessoas, marido e mulher, que são católicos praticantes, por isso foquei meu olhar mais para eles, pois sabia que em algum momento conseguiria observar a pratica do sagrado neles.
Na quinta feira a 23:50 mais ou menos comecei a observar como seria a virada do dia para a Sexta da Paixão. Estávamos todos acordados, o churrasco estava “rolando solto” e tinha gente fumando na mesa de baralho, bebendo cerveja, contando casos engraçados, jogando sinuca, ou seja, “o profano”.
Quando foi se aproximando a meia-noite observei que o casal Católico foi para o quarto onde estavam dormindo, e não voltaram mais naquela madrugada, já se passava da 1:00, fui então observar os membros da minha família que são mais conservadores, estavam em sua maioria na sala conversando, assistindo televisão, e comendo carne de boi e porco normalmente. Num determinado momento fiz uma pergunta para minha tia que é a evangélica mais fervorosa da família: “… o tia, já é sexta da paixão, e porque você está comendo carne vermelha?” então ela deu uma risada e respondeu: “…o meu filho, agente não tem dessas coisas não, e só os católicos que não comem carne vermelha.” , então eu fiz outra pergunta: “… mas porque que só eles não comem carne vermelha?” então ela respondeu: “… são aqueles padres que ficam pondo essas coisas na cabeça do povo.”.
Quando era umas 2:30 da manhã eu estava jogando sinuca junto com um grupo de sete pessoas se revezando então uma dos amigos da família lembrou que já era sexta-feira, ele estava um pouco embriagado então disse “… nossa, deixa eu parar de beber senão deus castiga …” e todos que estavam no grupo começaram a rir cara dele, mas passados uns vinte minutos que ele disse aquilo voltou a beber e fumar. Assim continuou a madrugada, então lá pras 3:00 mais ou menos o pessoal foi se recolhendo para os seus quartos mas ainda ficou algumas pessoas bebendo e conversando baixo.
Na Sexta de manha me levantei as 9:30 da manha, mas não vi ninguém acordado, passados uns trinta minutos o pessoal que não estava de ressaca começou a levantar, escutei então um barulho de carro chegando no sítio, fui ver quem era, quando avistei o carro vi que era o casal de católicos, o nome deles é Jorge e Salete, perguntei onde eles estavam e me disseram que foram á uma missa. Quando era umas 11:00 mais ou menos um tio meu se levantou, ligou o som no ultimo volume, tocando Zeca Pagodinho para acordar todo mundo, 11:30 já estava todos de pé, tomamos café da manha normalmente ao som de Zeca Pagodinho, e os católicos não reclamaram de nada, as vezes eles até cantavam trechos das musicas como por exemplo: “vai vadiar, vai vadiar, vai vadiar, vai vadiar…” percebi também que eles estavam atentos a questão da carne vermelha pois não comeram presunto nem salame e outros derivados da carne. Passado um tempo o pessoal começou as atividades novamente, acenderam a churrasqueira, começaram a beber cerveja, jogar sinuca, baralho, nadar,etc… Observei que quem era católico foi se resguardando do que era muito profano, por isso eles ficaram mais na pisina dentro e de casa.
Quando foi 13:00 mais ou menos, os homens se reuniram pra jogar futebol no campinho dentro do sítio, Jorge foi jogar conosco, o jogo começou e todos nos reparamos nele, pois sempre que jogamos futebol ele é uma das pessoas que mais reclama, mais xinga e fala palavrão, mas ele não estava demonstrando raiva mesmo com o seu time perdendo, então um primo meu que era do outro time brincou com ele dizendo ” …ué Jorge o que que está acontecendo com você, ce ta calmo hoje .” e ele respondeu, “Hoje é sexta da paixão, se eu for começar a xingar meu time eu vou direto pro inferno…”. e assim foi até o final do jogo. Quando eu fui almoçar percebi que tinha bacalhau na mesa e o pessoal que era católico comeu bacalhau e peixe, já que não era comeu peixe, carne de boi, porco, frango, etc… o dia continuou assim com o churrasco, musica alta, cerveja, Jorge e Salete não se descuidaram um minuto, e tentações foi o que não faltou pois a parte mais divertida do churrasco foi o campeonato de truco que meus tios organizaram, e o Jorge que é fanático por truco não pode jogar.
O campeonato foi normal com varias discussões, palavrões, gritaria, confusão e tudo que tem direito um autentico campeonato de truco que se estendeu até umas 21:00 mais ou menos. Então o dia acabou como na quinta feira. O profano “rolando solto” e as pessoas que seguem a religião católica durante todo o dia seguiram os ensinamentos de sua religião em primeiro lugar, ou seja, resistiram as tentações para manter viva neles a chama de sua fé.
Parte III: Relato Pessoal Sobre a Experiência do Trabalho de Campo.
Relatar o sagrado e o profano na semana santa foi uma experiência muito enriquecedora para a minha formação como Cientista Social e acima de tudo uma experiência pra vida inteira, pois olhar uma coisa que eu nunca tinha reparado em toda a minha vida pelo fato da minha família não seguir as mesmas tradições católicas, me trouxe uma visão privilegiada da cultura de outras pessoas tão próximas porem tão diferentes.
Pode-se dizer também que olhar o relacionamento de pessoas chegadas porem diferentes é um ótimo objeto de estudo e para que se possa entender melhor estes relacionamentos é só na pratica mesmo.
Referencias Bibliográficas
http://www.mulhernatural.hpg.ig.com.br/mensagens/semanasanta.htm
Autor: Filipe Augusto Batista de Souza