segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Exposição de respeito à diversidade cultural é realizada por alunos de Araranguá

Entre os objetivos do projeto está o de promover o conhecimento inter-religioso
Com o tema ‘Eu respeito as diferenças’, alunos do 6°, 7º e 8º ano do Ensino Fundamental das Escolas de Educação Básica Castro Alves e Maria Garcia Pessi, estão expondo trabalhados artesanais na sede da Secretaria do Desenvolvimento Regional de Araranguá.
Os bonecos são resultado do Projeto de Ciências da Religião, de autoria da professora de Ensino Religioso Bernadete Gomes Januário. Ela explica que a temática na atividade pedagógica desenvolvida em sala de aula resultou nos bonecos de garrafa pet, com roupas confeccionadas com TNT, papel crepom, entre outros materiais reciclados.
Entre os objetivos do projeto está o de promover o conhecimento inter-religioso, por meio de uma breve biografia de personagens que se destacaram dentro de uma determinada religião, ou atitudes filosóficas de vida missionária, como padre Cícero, Moisés, José, Jacó, Maria, José, Maomé, entres outros.
A exposição pode ser conferida até o dia 25 de novembro no hall da 22ª SDR, que fica na Rua Porfírio Lopes de Aguiar, nº 401, bairro Cidade Alta.
Colaboração: Imprensa SDR Araranguá

Ajuda-me a morrer

Quatro brasileiros contam por que se inscreveram numa clínica de suicídio assistido

Ajude-me a morrer (Foto: Shutterstock)

(Foto: Shutterstock)

Raquel (nome fictício), uma aposentada paulistana, fala da própria vida com orgulho. “Aproveitei minha juventude, peguei muito sol, viajei pelo mundo, namorei, casei, tive duas filhas maravilhosas, me divorciei e trabalhei duro”, afirma. Aos 68 anos, mora sozinha num bairro nobre de São Paulo. Caminha diariamente, para ver a vizinhança e para não conviver com a bagunça que a reforma de sua cozinha anda provocando. Raquel é organizada. Dentro de um armário, na sala de estar, guarda uma pasta com instruções que poucos amigos seus conhecem e pouquíssimos se comprometeram a cumprir. Lá está escrito o destino que Raquel arquitetou para si: viajar até a Suíça, onde médicos, enfermeiros e psicólogos a aguardam numa clínica. Ela espera ser examinada e, uma vez aprovada, receber um copo com um barbitúrico misturado a 100 mililitros de água. A bebida, de gosto amargo, descerá em poucos goles. Cinco minutos depois, virá o sono. Em meia hora, promete a clínica, a senhora satisfeita com a vida estará morta. Há quatro anos, Raquel pagou R$ 400 para associar-se à Dignitas, organização suíça que cobra cerca de R$ 15 mil para ajudar pessoas a se matar. Entre os 6.261 inscritos, de 74 países, há dez brasileiros. Quatro deles revelaram a ÉPOCA por que decidiram planejar a própria morte.
Raquel sofre de ateromatose, doença circulatória que compromete a oxigenação do cérebro e pode causar um derrame. Amanhã ou dentro de 15 anos – o momento é imprevisível –, ela pode perder a lucidez. Raquel diz sentir-se mais segura ao saber que, se isso acontecer, seus últimos desejos estarão registrados nas instruções contidas em seu envelope. “Quando não tiver plena consciência, prefiro morrer”, afirma. “Não me sinto uma suicida, jamais pularia da janela. Apenas quero morrer dormindo.” Raquel diz não querer para as filhas o sofrimento que ela viveu ao cuidar da própria mãe. “Minha mãe passou três anos delirando num leito de hospital, sem reconhecer pessoas ou falar coisa com coisa”, afirma. “Proibi minhas filhas de visitá-la, para que as duas guardassem somente lembranças boas.”
Raquel (nome fictício), 68 anos, aposentada (Foto: Rodrigo Schmidt/ÉPOCA)
A mensagem
Para você
Existem pessoas que decidem não seguir adiante quando se veem privadas de saúde mental ou física

Para amigos e parentes
Tentar entender o sofrimento de alguém pode ser mais eficaz do que palavras vazias de incentivo
 Ao longo da história, o suicídio sempre foi condenado pelas religiões e pelas leis – são pouquíssimos os países onde tal prática, mesmo assistida por médicos, é liberada. Sob que condições – se em alguma – seria moralmente aceitável que um ser humano tirasse a própria vida? Tal questão intriga filósofos desde a Antiguidade e persiste como tema de debate intelectual até os dias de hoje – a ponto de o escritor francês Albert Camus, um dos grandes pensadores do século XX, ter dito que o suicídio constitui a questão central de qualquer sistema de pensamento. O controle sobre a própria vida também perturba escritores e dramaturgos. O maior de todos, o inglês William Shakespeare, trata do tema em seu monólogo mais conhecido, de Hamlet. No trecho que começa com a frase “ser ou não ser”, o protagonista cogita se vale a pena empunhar armas contra um mar de problemas – ou se seria melhor ir para o país não descoberto, do qual nenhum viajante jamais retornou. No Brasil, na peça Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, o retirante Severino diz a um interlocutor: Que diferença faria/se em vez de continuar/tomasse a melhor saída/a de saltar, numa noite/fora da ponte e da vida?.
Tanto Hamlet quanto Severino optam por viver. No poema de João Cabral, o protagonista testemunha um nascimento e considera aquilo uma resposta a sua pergunta: Ela, a vida, a respondeu, com sua presença viva.
Confira os depoimentos completos dos quatro brasileiros
"
Você sempre pode triunfar", diz o físico Stephen Hawking
As leis, no Brasil e no mundo, foram criadas com base na ideia de que todos querem viver – e que tirar a vida, em qualquer circunstância, é um mal. Diante da crescente longevidade humana e da agonia longa e dolorosa de muitos doentes terminais, que persistem meses ou anos em estado muitas vezes vegetativo, esse conceito agora está em discussão. Os cuidados paliativos, a humanização da morte e a discussão sobre em que momento os tratamentos médicos podem ser interrompidos têm se tornado questões centrais de qualquer conselho de ética médica no mundo.
Em 2010, o Conselho Federal de Medicina (CFM) liberou os médicos para interromper o tratamento de um doente terminal, se assim ele quiser. É uma prática conhecida como ortotanásia, uma forma passiva de suicídio assistido. Ela é ilegal no Brasil, mas até hoje nenhum médico foi condenado por praticá-la. O projeto do novo Código Penal, concluído pelo Senado na semana passada que será encaminhado à Câmara, propõe um passo além. Ajudar a morrer, hoje considerado homicídio, viraria um crime específico. A pena máxima cairia de 20 para quatro anos, e a pena mínima cairia a zero. Pelo projeto, o réu sairia livre se o júri concluísse que agiu pelo bem do morto.
Preservar a vida é o principal empreendimento da humanidade, motivador da criação de leis de convivência social e da pesquisa científica. O sucesso do homem nesse desafio é indiscutível. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a longevidade passou de 31 anos, em 1900, para 66, em 2005. Epidemias de gripe e cólera foram controladas. Mesmo a aids, doença que em 1980 matava em cinco anos, tornou-se tratável. Segundo o periódico British Medical Journal, a expectativa para um britânico que contraiu o vírus HIV com 20 anos é morrer aos 66. Numa época em que é plenamente possível alguém passar de 100 anos, aflora, paradoxalmente, a ideia oposta: manter-se vivo, vítima de doenças degenerativas ou problemas físicos irreversíveis, pode ser considerado um fardo – e a morte voluntária, uma saída digna.
Entre os que procuram a clínica suíça Dignitas, o perfil de Raquel é intermediário entre dois extremos. De um lado, estão pessoas plenamente saudáveis que pensam no suicídio assistido como uma espécie de “seguro de morte”, contra alguma doença incapacitante. São os casos do comerciante Hamilton Martins, 45 anos, de Goiás, e do funcionário público Orlando Correia, de 46 anos, da Paraíba. De outro, estão os que sofrem de graves problemas de saúde e têm dificuldade em conviver com a condição. Assim como Raquel, a ex-atleta Ana Paula (nome fictício), do Rio Grande do Sul, está nesse segundo grupo. Os quatro não se conhecem e estão entre os brasileiros que se associaram à Dignitas.
Hamilton Martins, 45 anos, comerciante (Foto: Cristiano Borges/ÉPOCA)
Para Martins, as pessoas têm direito de encerrar a própria vida ao se tornar vítimas de alguma doença incurável. “A Dignitas faz algo nobre ao oferecer essa ajuda a quem está sofrendo”, afirma. “Mas espero não precisar usar o serviço.” Orlando Correia pensa parecido. “As pessoas não fazem seguro de vida? Vejo isso como um seguro de morte”, afirma. Sente-se tão à vontade de expor seu ponto de vista que foi o único a mostrar o rosto nesta reportagem. Ana Paula, de 32 anos, está no segundo caso. Formada em educação física, há três anos bateu a cabeça num banco de areia, ao mergulhar no mar numa área rasa. O impacto fraturou uma vértebra de sua coluna cervical e tornou-a tetraplégica, imóvel do pescoço para baixo. Ela precisa de ajuda para ir ao banheiro, beber ou comer. “Não consigo nem escovar os dentes por conta própria”, afirma. “É muito penoso, passivo. Como posso esperar viver uma vida plena e longa se sempre dependerei de alguém?”
Conversar com Ana Paula é experimentar um estranho conflito entre sua história trágica e a esperança que sua aparência inspira. As sessões de fisioterapia, que faz de segunda a sexta-feira, mantêm o viço da musculatura. O corpo permanece íntegro, apenas se recusa a trabalhar. Como a paralisia pouco afeta o funcionamento de seu organismo, ela tem condições de viver por décadas. Talvez a medicina encontre cura para a tetraplegia antes de Ana Paula envelhecer. Mas essa esperança transformou-se em angústia. “Passei meses fazendo tratamento experimental, nos Estados Unidos, e não melhorei. Centenas de médicos testam novos métodos, cobram caro e não oferecem resultados”, afirma. “Não me arriscaria a fazer uma cirurgia que pode não dar resultado. E o risco de que falo não é de vida ou financeiro, é o risco de me decepcionar.”
Ana Paula (nome fictício), 32 anos, ex-atleta (Foto: Mirian Fichtner/ÉPOCA)
Depois do acidente, Ana Paula tornou-se uma ávida leitora do noticiário científico. As pesquisas com células-tronco são promissoras, mas ainda não há resultados palpáveis para sua doença. O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis quer que, por meio da robótica, um tetraplégico dê o pontapé inicial na Copa do Mundo de 2014. Mas isso não a anima. “Não quero usar um exoesqueleto e sair na rua igual ao Robocop”, diz. Ana Paula alterna sessões diárias de terapia com psicólogo e psiquiatra. Trabalha numa empresa e passeia com amigos e parentes. Tenta seguir adiante, mas não consegue. “Sei que não envelhecerei assim. O suicídio é algo que acontecerá na minha vida, e espero que não demore.”
Seu caso levanta outra questão relacionada à vontade de encerrar a própria vida: a reação da família. Ana Paula diz-se revoltada com a incompreensão dos parentes. “As pessoas são egoístas, só pensam quanto elas sofrerão se eu for embora. Não conseguem ter ideia do meu sofrimento”, diz. “A decisão de me matar precisa ser bem trabalhada em família, porque não quero que eles sofram com isso. Principalmente meus pais, ainda mais minha mãe, que me carregou no ventre.” Além do desejo de se despedir em paz, Ana Paula tem uma dificuldade prática. Imóvel do pescoço para baixo, ela só poderá realizar sua vontade com a ajuda de outra pessoa. A divisão de tarefas e despesas, no tratamento de um parente doente, é pesada. Assistir à transformação da pessoa querida é doloroso, assim como aceitar sua vontade de renunciar à vida.
Orlando Correia, 46 anos, funcionário público (Foto: Francois Wavre/Rezo/Polaris/ÉPOCA)
Orlando Correia era pequeno quando um primo mais velho tentou se matar com um tiro no peito. “Aquilo marcou minha infância. Acompanhei suas sessões diárias de fisioterapia no hospital, por meses, sem perguntar nada”, afirma. “Ficava olhando para seu rosto, curioso para saber o motivo daquela atitude. Achava o suicídio uma coisa medonha, mas tinha certo fascínio.” Correia diz que levou décadas para aceitar o gesto suicida do primo. Entender o motivo, nunca entendeu. Mesmo assim, quer ter a chance de – se estiver numa situação incapacitante – optar por morrer.
A Suíça é o único país onde um turista pode se matar com auxílio de um terceiro. Para evitar acusações de assassinato, o ajudante não pode ganhar dinheiro com aquela morte ou incitar o suicídio. Pode fornecer uma droga letal, mas a pessoa disposta a morrer precisa tomar o veneno por conta própria. A Suíça tem cinco clínicas que praticam suicídio assistido. A Dignitas (leia o quadro abaixo) é a única a oferecer o serviço a estrangeiros não residentes. Desde que foi fundada, em 1998, pelo jornalista e advogado alemão Ludwig Minelli, a Dignitas ajudou pessoas a se matar em quartos de hotel, apartamentos alugados
e, segundo a imprensa suíça, até em carros no acostamento de estradas. Mudou várias vezes de endereço, por causa de protestos de moradores e políticos das regiões onde a clínica estava instalada. “A história da Dignitas repete um bordão bem conhecido nos estudos de sociologia: ‘Não no meu quintal’”, afirmou Minelli à revista americana The Atlantic. Atualmente, a clínica usa uma casa de dois andares nos arredores de Zurique. Lá, ajuda pessoas a morrer – um processo que chama de “acompanhamento”.
Até dezembro de 2011, a Dignitas levou à morte 1.298 pessoas – entre elas, em 2010, um brasileiro. O pagamento de cerca de R$ 15 mil cobre inscrição, anuidade, hospedagem e morte. Funeral e cremação custam mais R$ 7 mil. No momento em que decide recorrer à Dignitas, o candidato precisa explicar seus motivos e enviar um histórico médico atestando doença terminal ou incurável. As informações são avaliadas por um médico, que pode pedir mais documentos, recusar o paciente ou dar sinal verde. Com isso, basta ao candidato viajar para a Suíça e fazer duas consultas em dias diferentes com o médico responsável por receitar o barbitúrico. Tudo leva quatro dias.
Cada morte na Dignitas é investigada pela polícia. Para não ser acusados de assassinato, os enfermeiros apenas preparam o coquetel letal. A ingestão cabe ao próprio interessado. Quando ele não consegue levar o copo à boca, há um canudo. Mas a substância é injetada na veia daqueles que não podem mais se mover. Chegar à clínica com um cateter preso ao corpo é interpretado como manifestação de vontade. Como a bebida é amarga, a clínica recomenda que o candidato tome antes um remédio contra náusea e uma bebida doce, como chocolate, para evitar vômitos. Depois de tomar a droga, a pessoa dormirá entre dois e cinco minutos até entrar num coma profundo. O aparelho respiratório deixará então de funcionar, causando a morte. “O processo é absolutamente indolor e livre de riscos”, afirma um documento da clínica.
Segundo a Dignitas, 70% dos candidatos ao suicídio assistido recebem o sinal verde, mas somente 14% se matam. Em seu estatuto, a clínica diz desestimular os filiados da ideia de pôr fim à vida. Raquel e Ana Paula dizem que a Dignitas se dispõe a conversar. “Nosso principal trabalho é de prevenção ao suicídio”, afirmou a ÉPOCA Silvan Luley, porta-voz da Dignitas. Ele diz que a clínica pretende encerrar suas atividades à medida que a discussão sobre a morte assistida evoluir nos países. “Não é nossa preocupação alguém do Brasil, ou de qualquer outro lugar, vir à Suíça morrer”, afirma. “Por causa da Dignitas, fica fácil para os políticos exportar a solução de uma questão que deveria ser discutida internamente.” Uma discussão longa – que precisa levar em consideração argumentos seculares de religiosos, filósofos e artistas que, ao longo dos séculos, têm se debruçado sobre o tema.
Qualidade de vida e qualidade de morte (Foto: Fontes: Organização das Nações Unidas (ONU) e Ministério da Saúde da Suécia)

ATALHOS PARA O FIM
Formas de abreviar a vida em diferentes países
Ortotanásia
A pedido de um paciente terminal ou representante, o médico cessa o tratamento. É aceita pelo Conselho Federal de Medicina do Brasil e, desde maio, na Argentina
Eutanásia voluntária
Morte por uma injeção aplicada pelo médico, a pedido do paciente. É autorizada por Luxemburgo, Bélgica e Holanda, desde que para doentes terminais
Suicídio assistido
Uma pessoa ajuda outra a se matar. É permitido na Suíça, mesmo para pessoas de fora do país. O ajudante não pode ser remunerado nem receber herança
Suicídio assistido por médico
O médico receita uma droga letal ao paciente, que a toma quando quiser. É legal na Bélgica, Holanda e Suíça e nos estados americanos de Oregon, Washington e Montana
A clínica especializada em morte (Foto: Fonte: Dignitas / Foto: David Levene/The Guardian)

10 livros infantis que abordam os direitos humanos.Dicas de pesquisa de Karin Willms!!!

29/10/2014 - -
Da Redação
Carolina Pezzoni, do Promenino, com Cidade Escola Aprendiz
O direito à vida e à convivência familiar, o acesso à educação, ao lazer, ao brincar. O direito de estar a salvo de qualquer tipo de discriminação e violência. Todos esses direitos, entre tantos outros, são considerados essenciais e resguardados às crianças por lei. Mas será que elas têm consciência do que cada um deles representa?
Apoiando-se na leitura como porta de acesso a essas informações, o Promenino pesquisou junto a especialistas* na área da educação e da literatura e chegou a uma seleção de 10 livros infantis que abordam esses temas de forma sensível e sem artificialismos.
Uma seleção de livros transformadores, de diferentes nacionalidades, os quais, segundo definição do autor e crítico inglês Aidan Chambers, “enriquecem a imagem do mundo e sua existência; ajudam a conhecer a si mesmo e a compreender os outros e a sociedade em que se vive, assim como a sociedade em que vivem as outras pessoas”.
Boa leitura!
1. Acompanhando meu pincel
Dulari Devi, com texto de Gita Wolf (WMF Martins Fontes, 2014)
Ao percorrer as delicadas e vibrantes ilustrações nas páginas deste livro, o leitor fica conhecendo a história de como a sua autora, a indiana Dulari Devi, se tornou uma artista. Nascida em uma família pobre, de tradição pescadora, ela precisou trabalhar na infância, ajudando a mãe na plantação de arroz, cuidando dos irmãos mais novos em casa, fazendo trabalhos domésticos para os vizinhos. O que mais gostava de fazer, no entanto, era parar no caminho para ver as outras crianças brincarem.
“Às vezes eu tinha vontade de fazer algum trabalho diferente, pois desde pequena era sempre a mesma coisa, todos os dias”, confidenciou em relato oral à editora Gita Wolf, que o reproduziu em texto no livro. Sem nunca ter ido à escola, Dulari não aprendeu a ler ou escrever, mas a vontade de “produzir alguma coisa bonita” a levou a descobrir sua vocação na pintura, especialmente na técnica Mithila, estilo que a tornou uma celebrada artista popular, e que agora usa para retratar lindamente as cenas mais marcantes da sua infância.
2. É tudo família!
Alexandra Maxeiner e Anke Kuhl (L&PM Editores, 2013)
Como um almoço de domingo, em que sempre cabe mais um, este livro abrange a diversidade das formações familiares contemporâneas. Em ritmo de HQ, ilustra algumas possibilidades: há famílias com filhos únicos ou numerosos, famílias com pais separados que podem se dar bem ou não, famílias com padrastos ou madrastas (geralmente diferentes das personagens dos filmes), famílias com pais homossexuais ou viúvos, famílias cujas crianças são criadas pelos avós, pais adotivos ou vivem em um orfanato.
Além dos diferentes tipos de laços familiares, apresentados de forma bem-humorada e sem artificialismos, o livro dá conta também de aspectos afetivos que permeiam essas relações: sentimentos como raiva, tristeza e amor, a rotina frenética de quem tem duas casas, a dor provocada pela perda de um parente querido e até mesmo circunstâncias mais obscuras, como a violência contra crianças: “Existem pais que tratam seus filhos muito mal. Nunca os abraçam ou beijam. Só gritam com eles. Outros até batem nos filhos, embora isto seja proibido!”.
3. Um outro país para Azzi
Sarah Garland (Pulo do Gato, 2012)
A partir do olhar da menina Azzi, este livro retrata uma família do Oriente Médio, que se vê obrigada a fugir quando a guerra começa a afetar sua rotina. “Às vezes, o barulho das metralhadoras nos helicópteros era tão alto que as galinhas ficavam assustadas e paravam de botar ovos”, conta a protagonista, nessa narrativa ricamente ilustrada, revelando sua perspectiva da aproximação do conflito.
Apesar das dificuldades que se impõem na travessia da sua família para um novo país – desde a fome, o frio e a sede que sentiu, passando pela preocupação com o bem-estar dos pais, até a saudade da avó, que permanece no país antigo para cuidar da casa – Azzi encara a situação como uma aventura e acaba descobrindo sentimentos que não conhecia, como a solidariedade e a esperança.
Inspirada por algumas famílias de refugiados da Birmânia e do Butão que encontrou na Nova Zelândia, a autora estudou as memórias daqueles que precisaram fugir ou foram exilados de seus países e pesquisou detalhes com professores e especialistas em leis de imigração e direitos humanos para contar uma história universal de mudança e adaptação.
4. A diaba e sua filha
Marie NDiaye, com ilustrações de Nadja Fejtö (CosacNaify, 2011)

Todos os dias, ao anoitecer, uma diaba de pele escura, olhos brilhantes e roupas muito limpas sai pelas ruas da cidade, batendo de porta em porta, em busca de sua filha perdida. Prestes a ajudá-la, as pessoas reparam que ela tem cascos negros e delicados no lugar dos pés e imediatamente a expulsam de suas casas, apagando as luzes até que se afaste.
Ao narrar esse conto de mistério, antes uma alegoria sobre nossos próprios medos e preconceitos, a autora coloca bem e mal, humanidade e demônios, nós e os outros na mesma página, nos desafiando a buscar qualquer traço de humanidade dentro de nós mesmos.
Como escreveu Mia Couto no prefácio do livro, a franco-senegalesa NDiaye fala da necessidade de classificarmos os outros e os arrumarmos em bons e maus, em anjos e monstros. “Nestas páginas se inscreve, enfim, a facilidade em culparmos e diabolizarmos os que são diferentes e o modo como os sinais de aparência (no caso, os pés de cabra) se erguem como marca de fronteira entre os ‘nossos’ e os ‘do lado de lá’.”
5. Martin e Rosa
Raphaële Frier e Zaü (Pequena Zahar, 2014)
Os ônibus só passavam em frente às casas das pessoas brancas, e negros só podiam se sentar no fundo, isso se nenhum branco quisesse o seu lugar. Restaurantes, banheiros públicos, elevadores e guichês tinham divisões de raças identificadas por tabuletas. Casais mistos também eram proibidos em qualquer lugar.
Muitos já ouviram falar sobre discriminação racial, mas poucos têm memória do quanto ela se impôs ao cotidiano dos negros no sul dos Estados Unidos, no período após a Guerra de Secessão. Para suprir essa lacuna, este livro informativo resgata alguns eventos históricos que marcaram os avanços na luta pelos direitos civis e pela igualdade entre os povos, destacando a trajetória daqueles que foram seus maiores representantes: Rosa Parks e Martin Luther King.
6. Mandela: o africano de todas as cores
Alain Serres e Zaü (Pequena Zahar, 2013)
Quando criança, ele gostava de pastorear carneiros, cortar galhos para arremessar bastão. Brincava com os cabelos brancos do pai e bebia leite recém-tirado das vacas. Um pouco mais velho, participava até tarde das conversas serenas dos adultos sobre os rumos da aldeia e queria estudar para não ter de trabalhar nas minas de ouro como os outros homens da aldeia.
Organizado em ordem cronológica, este livro apresenta a biografia de Rolihlahla, mais conhecido como Nelson Mandela, em uma linguagem poética e acessível para crianças. Em tom intimista, revela o seu percurso na África do Sul, em nome da democracia e igualdade de direitos, destacando o período de quase 30 anos que passou na prisão, até se tornar um dos maiores símbolos de resistência, coragem e paz para a humanidade.
7. Eloísa e os bichos (disponível em ISSUU
Jairo Buitrago e ilustrações de Rafael Yockteng (Pulo do Gato, 2013)
“Eu não sou daqui. Chegamos numa tarde, quando eu era bem pequena.” Assim começa o relato da protagonista, uma menina que chega a uma nova cidade com seu pai, em busca de uma vida melhor, talvez até fugindo de um passado doloroso. Nesse cenário, tudo o que ela encontra é um mundo estranho, onde as coisas obedecem a regras diferentes.
Ao aliar um texto conciso a ilustrações simbólicas e ricas em detalhes, este livro pousa um olhar terno e renovador sobre questões sociais, como o deslocamento, o respeito à diversidade e a recusa à intolerância. Segundo descrição na revista espanhola “Babar”, este é um daqueles livros aos quais se retorna mais de uma vez, procurando descobrir o segredo da sua grande carga emotiva e humana. “Como é possível dizer tanto em tão poucas páginas e frases tão sucintas?”
8. O mundo no Black Power de Tayó
Kiusam de Oliveira e ilustração de Taisa Borges (Peirópolis, 2013)
A protagonista deste livro é uma menina de 6 anos que, além de brincar e adorar bichos, tem orgulho da sua pele e dos seus olhos negros. Apesar do preconceito das outras crianças, faz questão de enfeitar seu cabelo black power das formas mais criativas. Seu nome, Tayó, originário do idioma africano iorubá, significa “da alegria” e espelha a forma como ela se relaciona com as pessoas a sua volta e com suas raízes.
Vencedor do Prêmio ProAC de Cultura Negra em 2012, este livro traz uma mensagem de valorização das raízes culturais brasileiras. “Hoje, eu olho para Tayó e posso ver minhas sobrinhas, primas, alunas – posso ver a mim mesma – e sentir orgulho. Isso, em termos de identidade, é fundamental, uma vez que as crianças negras não têm modelos positivos nas revistas e programas de televisão como espelho. É um caminho que ainda deve ser construído pelas mídias brasileiras”, afirma a autora.
9. A história de Júlia e sua sombra de menino
Christian Bruel e Anne Galland, com ilustrações de Anne Bozellec (Scipione, 2010)
“Você sempre tem que fazer tudo tão diferente?”, interroga a mãe. Ao que a filha responde: “Eu não sou como todo mundo, mamãe. Eu sou a Júlia!” O título do livro, somado a este diálogo em família, já dá uma ideia dos rumos desta narrativa. Pressionada pelo olhar vigilante dos pais, que não ‘entendem’ o seu comportamento, um dia Júlia acorda e se percebe com uma sombra de menino.
Por aí segue a história, que além do tema da aceitação e da busca pela identidade, aborda as diferentes concepções da infância, as tentativas dos pais em enquadrar os filhos em suas próprias expectativas e a cumplicidade entre as crianças que vivem situações semelhantes. Um clássico da literatura infantil francesa, publicado originalmente em 1976 e traduzido para vários idiomas.
10. O nascimento de Celestine 
Gabrielle Vincent (Editora 34, 2014)

Esta é uma história sobre o afeto e a amizade, que começa no dia em que o solitário urso Ernest encontra a ratinha Celestine abandonada em uma lata de lixo. Descortinam-se, a partir daí, os preconceitos que enfrenta para ficar com ela e os cuidados que dedica ‘ao bebê’ nos momentos mais difíceis.
Um livro-chave da artista belga Gabrielle Vincent (1928-2000) que, com poucas palavras e finos traços de sonho, em tons de sépia, mostra porque esses personagens conquistaram leitores no mundo inteiro. O editor Arnaud de la Croix escreve no posfácio: “[Ernest e Celestine] não são datados, uma vez que tratam do essencial: os sentimentos compartilhados”.
*Agradecemos às especialistas pelas valiosas sugestões:
Cristiane Tavares - jornalista e mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP, coordenadora de um projeto de formação de professores na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo.
Sandra Medrano - pedagoga e mestre em didática da Língua Portuguesa, coordenadora de projetos de formação de professores na Comunidade Educativa CEDAC e no Laboratório de Educação.
Thaís Albieri - editora, bacharel em Letras pela Unicamp-SP, onde fez mestrado e doutorado em Literatura Brasileira.
http://portal.aprendiz.uol.com.br/2014/10/29/10-livros-infantis-que-abordam-os-direitos-humanos/

Amor romântico e amor genuíno | Jetsunma Tenzin Palmo on romantic love


Muçulmanos, judeus e católicos sem conflitos dentro da sala de aula


Escolas têm projetos para estimular a tolerância religiosa e ampliar os horizontes dos alunos

por Clarissa Pains








Estudante do judaico Liessin, Pedro Nudelman de Carvalho observa o Alcorão, livro sagrado do Islã que acaba de chegar ao colégio - Guilherme Leporace




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RIO — Era início de agosto e a luz do sol ainda estava generosa sobre o céu de Viena quando o professor Rafael Azamor entrou em uma das salas da 5ª Conferência Judaico-Muçulmana, na capital austríaca, para contar a jovens de 38 países como funciona o trabalho de tolerância religiosa feito pelo Colégio Israelita Brasileiro Liessin. A tradicional escola de origem judaica em Botafogo criou, há sete anos, uma aula de diálogo inter-religioso. Parte do projeto consiste em aproximar seus alunos de instituições como o Colégio Santo Inácio e a Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio — já que não existe uma escola islâmica no estado. Depois da apresentação de Azamor no congresso, um sacerdote muçulmano o presenteou com um Alcorão, no qual escreveu uma dedicatória que ressalta “desejos de paz”. Na volta ao Brasil, o livro sagrado do Islã encontrou lugar de destaque na biblioteca do Liessin.

— Nas aulas, nós discutimos a coexistência pacífica. Não só entre judeus, muçulmanos e católicos, mas com o outro, quem quer que ele seja — diz o professor, que contou com a consultoria da Sociedade Muçulmana e do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) para elaborar o material didático do curso.

Dentro do programa, os alunos frequentam escolas católicas e a única mesquita da cidade, na Tijuca; e integrantes dessas instituições também vão até o Liessin. Nesta quinta-feira, dia 30, por exemplo, haverá no colégio uma palestra de Fernando Celino, que faz parte da Sociedade Muçulmana. Ele falará sobre conceitos básicos do islamismo — religião seguida por cerca de 500 famílias no Estado do Rio, segundo a própria Sociedade Muçulmana — e sobre os conflitos atuais ao redor do mundo.

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— Eu dou palestras em muitos lugares, e o trabalho constante com o Liessin já dura cinco anos. É bom poder mostrar o que é a nossa religião, que infelizmente é muito estereotipada. Sem dúvida, o que mais falta no mundo é diálogo. No Brasil, no entanto, acredito que estamos fazendo um bom trabalho — afirma Celino.

Um dos pontos altos do curso ainda está por vir: os alunos trocarão experiências, nos próximos dias, com estudantes de uma escola muçulmana dos Estados Unidos. Eles se comunicarão por vídeo, perguntando e respondendo questões relativas às práticas religiosas nos dois países. Pedro Nudelman de Carvalho, da 2ª série do ensino médio, espera ansioso por essa etapa.

— Quero perguntar sobre como a vida ficou por lá depois do atentado de 2001. Eu nunca tive muito contato com qualquer religião antes de entrar no Liessin, no ano passado, mas agora vejo que esta é uma parte da cultura que influencia todos os aspectos da vida — diz ele.

O rapaz esteve em Israel e na Polônia em abril, para a Marcha da Vida, que ocorre anualmente. Todos os alunos da 2ª série do Liessin vão para esta viagem, que dura pouco mais de duas semanas, acompanhados de dois alunos do Santo Inácio. Estes são escolhidos a partir de uma prova sobre a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. Uma das experiências mais marcantes para Pedro nessa jornada foi a visita a um bairro de Tel Aviv onde crianças judias e muçulmanas estudam na mesma escola.

— Juntas, essas crianças cantaram “Imagine”, do John Lennon, para a gente. Foi emocionante porque elas mostraram um relacionamento muito estreito e natural, e a gente nem sabia quem era de origem judaica e quem era de origem muçulmana — lembra o estudante.

Segundo o coordenador de ensino judaico da escola, Rafael Bronz, a união e o diálogo entre praticantes de diferentes religiões é hoje uma bandeira da instituição.

— Nós focamos mais nas semelhanças do que nas diferenças. Tanto o judaísmo quanto o islamismo, por exemplo, são religiões abraâmicas. Mas é importante entender que é também pela diferença que se fortifica a identidade — arremata ele.


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Alunos do Colégio Eliezer Max aprendem sobre o islamismo na única mesquita do Rio, na Tijuca- Divulgação / Divulgação



No também judaico Eliezer Max, tradicional colégio de Laranjeiras, a preparação para o Bar-Mitzvá — rito de passagem dos adolescentes judeus, aos 13 anos — vem sendo feita de forma bem diferente de três anos para cá: não apenas o aspecto religioso é estudado, mas também o social e cultural.

— Entendemos que é preciso trabalhar todas as diferenças. Queremos criar um diálogo intercultural e intercomunitário. É importante que os alunos travem contato com pessoas de classes sociais diferentes, que moram em outros lugares, que têm hábitos diversos. Entre as muitas atividades, temos encontros com a escola municipal vizinha e nos envolvemos em projetos em favelas como o Morro Santa Marta — afirma Michel Gherman, coordenador de cultura judaica do Eliezer Max.

A empolgação dos alunos deixa claro que o programa de atividades tem funcionado.

— Quando a gente conhece formas de viver que não são as nossas, a gente sempre consegue achar alguma semelhança e acaba entendendo melhor a si mesmo — ressalta David Chor, de 12 anos.

Para Irmã Vaneide Chagas, da Congregação das Religiosas de Nossa Senhora de Sion — à frente do Colégio Sion, hoje presente em oito países, incluindo a unidade do Cosme Velho —, é fundamental que os jovens tenham uma vivência de outras religiões, e não apenas as conheçam na teoria. Por isso é tão importante que eles entrem em contato com judeus, muçulmanos e praticantes de religiões de matriz africana, por exemplo. Não à toa as irmãs dessa congregação atendem também pela alcunha de “as irmãs do diálogo”.

— Nossa congregação recebeu como missão do Vaticano trabalhar o diálogo entre os povos. Isso é vital porque a intolerância é consequência direta da ignorância — destaca.

A própria história do colégio trata de exemplificar isso. A instituição foi criada em 1842, na França, quando os fundadores, que tinham origem judaica mas se tornaram padres, estavam preocupados com o futuro das meninas, que não tinham acesso à educação. Eles passaram, então, a ensinar as pequenas menos favorecidas, entre cristãs, muçulmanas e judias.

— Nessa época, os dois únicos critérios eram ser menina, já que elas eram excluídas dos outros colégios, e querer educação. A religião era o que menos importava. Todo povo tem o direito de existir e de exercer a sua crença. Este é o lema do Sion — sintetiza Irmã Vaneide, acrescentando que hoje a instituição ensina tanto meninas quanto meninos.





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