sexta-feira, 3 de abril de 2015

Estátua de Oxóssi, Oxún e Logún-Edé!!


Aposto que você nunca viu esta estátua antes. Nem eu, até hoje. É "O Monumento do Renascimento Africano", no Senegal. Bronze, estátua de altura de 60 metros com vista para o Oceano Atlântico desenhado por um arquiteto senegalês.Segundo o arquiteto, ele quis representar o renascimento através de uma imagem em homenagem ao deus da caça, com sua esposa considerada deusa dos rios e o filho deles no braço. Em Senegal, vale lembrar que eles cultuam deuses como Orixás, mas, que não foi trazido ao Brasil porque no tráfico negreiro feito pelos portugueses, só vieram povos da Nigéria, Benim, Congo e Angola.

Uma palavra ...... INCRÍVEL!
 
Ketú eu sou ketú Àláketú Odé

Diálogo inter-religioso: Derrubar muros, construir pontes


Devo muito à formação cristã que recebi desde a adolescência na Igreja Metodista. Muito do que sou e da visão de mundo que construí se deve à leitura da Bíblia à luz da vida, como aprendi. Também à compreensão de que amar a Deus é amar o mundo e tudo o que nele existe. Essa visão se ampliou com o meu engajamento em movimentos ecumênicos, experiência marcante da juventude até o presente. Nele aprendi que ser cristã é ser promotora da paz com justiça, e que nesta pauta estão o respeito, o diálogo e a cooperação entre as religiões.
 
E aí adentrei numa trajetória que tem sido árdua. Somos cercados por mensagens dentro e fora do espaço religioso que estimulam os cristãos a competirem entre si e a condenar aqueles que não o são. Entre estes estão os muçulmanos, representados como ameaça mundial, “terroristas” que desejam o controlar o mundo. Mais do que uma religião, o Islã nos é artificialmente apresentado como uma força política que promoveria guerra e morte para alcançar propósitos de poder. De fato, os projetos de poder existem e estão em todas as religiões. Mas, neste contexto, como ser fiel aos princípios ecumênicos e falar de respeito, de diálogo e de cooperação com o Islã? Para responder, evoco o importante documento do Conselho Mundial de Igrejas “Questões nas relações cristãos-muçulmanos: considerações ecumênicas” (1992).
 
Uma primeira atitude precisa ser garantir a perspectiva da justiça com o outro, o que significa uma revisão do olhar sobre o Islã. Além de ser visto, equivocadamente, como uma religião de natureza violenta, o Islã é tido como um grupo religioso monolítico. Ou seja, em qualquer contexto temos o mesmo e o único Islã. Essa visão ignora a diversidade de teologias, de pensamento filosófico e jurídico e de formas de devoção. Assim como cristãos não são um único grupo, é preciso ter clareza de que muçulmanos também não o são.
 
Mesmo com tanta diversidade, há uma forte convicção que os une: a afirmação que Deus é fonte de toda a vida e de tudo o que existe. Ela leva à compreensão da soberania absoluta de Deus, o que torna impossível honrar como divina qualquer pessoa ou coisa que não seja Deus. Daí o rechaço a toda forma de idolatria e de representação visível do divino. Dela deriva a compreensão de que Deus é justo, o que significa que Ele deseja que o ser humano conheça e pratique a Sua vontade. Por isso, Deus cuida, com misericórdia, e envia vários mensageiros para que todos conheçam Sua vontade. Daí o Islã ensinar que, desde o início da história, Deus tem revelado sua vontade à humanidade. Assim se institui o termo “muçulmano”: aquele que se rende, aceita e leva consigo a vontade de Deus. Isso é mais que entender “muçulmano” como o membro da comunidade islâmica.
 
E há algo muito importante nesse diálogo entre as religiões: a paz está no coração do Islamismo assim como está na espiritualidade cristã e na redação dos textos bíblicos. No Islã “as-salâm” (Paz) é um dos nomes dados a Deus. Muçulmanos, quando se encontram, cumprimentam-se com “as-salâm alaikum” (Paz seja contigo). Como o “shalom” no cristianismo. Aí está uma contribuição importante para o diálogo e a cooperação entre esses grupos religiosos: a paz que dá sentido à sua fé se torna fonte de ações de justiça. Leia-se: relações sociais e raciais igualitárias, defesa dos direitos humanos, promoção e garantia da liberdade de crença, solução de conflitos sociopolíticos e econômicos de forma pacífica.
 
Aqui estão expostos alguns dos meus sonhos e esperanças em meio às tantas manifestações de extrema intolerância da parte de crentes e não crentes expressas nas últimas semanas. Que eles se somem aos tantos outros que buscam, neste tempo, derrubar muros e construir pontes.
 
Por: Magali Cunha
Publicado originalmente em O Globo