terça-feira, 5 de maio de 2015

ESPIRITUALISMO - ATLANTICO NEGRO - NA ROTA DOS ORIXAS - MACUMBA, UMBANDA...

Magia dos Voduns

Explicar o que é Candomblé



Candomble raiz africana

Explicar o que é Candomblé
O Candomblé ainda é uma religião que causa estranheza na maior parte das pessoas, isso devido a nossa criação católica, o que a mídia expõe e os tais “ex pai de encosto” que para conseguir fama nas igrejas, inventam histórias sem pé nem cabeça, então decidi escrever sobre isso e ajudar você que está entrando para nossa religião e não tem argumentos para defender sua fé.
- O que é candomblé?
É uma religião de origem africana que cultua a ancestralidade e os elementos da natureza.
- Mas essa religião tem um Deus Principal?
Sim, chamamos de Olorun, o criador e ele nos colocou aos cuidados dos Orixás, que são nossos intermediadores.
- Mas se existe um Deus, porque não pedir diretamente a ele?
Os Orixás são divindades da natureza, ou seja, são mais próximos de nós e através de sua mitologia, nos educam e nos ensinam a conhecer nossas potencialidades e defeitos. Acreditamos que eles são aspectos do criador.
- E essa história que mata animais?
Se observamos a grande maioria das religiões, vamos encontrar o sacrifico de animais, que tem como objetivo dividir com o Deus o resultado de nosso trabalho. Através da carne comungamos com uma força maior, contudo respeitamos a natureza e só é retirado o que vai ser consumido, tudo é feito mediante a um longo ritual, onde pedimos agò (licença) para retirar aquela vida, que é muito importante, pois é um ser vivo.
- Porque vocês vestem essas roupas engraçadas, se é uma religião africana, porque não usar aquelas roupas tribais?
Nosso culto é de origem africana, porém no Brasil ganhou uma identidade própria, resultado de anos de escravidão e catequização forçada. As saias longas são mantidas dos tempos coloniais, o pano que envolve o seio e o ventre das mulheres, é uma marca das negras da Costa africana, por isso chama-se Pano da Costa e o pano que cobre a cabeça, é usado por acreditamos que a força do Orixá está no Ory, a cabeça, ou seja, uma forma de proteção e destaque.
- E porque essa história de raspar a cabeça?
Na origem, a retira total do cabelo era uma questão de higiene, mas hoje esse ato ganhou mais um contexto, de renascimento, de abdicação da vaidade pela fé, onde buscamos nos religar a nosso Orixá e consequentemente a Deus.
- Mas vocês idolatram o diabo também?
O Diabo é uma figura da mitologia cristã, nós não temos essa força inimiga dentro do nosso culto.
- Mas e Exú?
Exú é uma divindade mensageira, ligada a sexualidade e a semelhança da natureza, ele é luz e escuridão, como tudo que existe, inclusive nós, seres humanos. O que aprendemos dentro do candomblé é equilibramos essas forças, pois o que é bom para um não é bom para o outro.
- Se o Orixá é um Deus, porque quando vocês os recebem, se abaixam para os humanos?
O Orixá é uma inteligência superior e como pais, eles dão exemplo, ou seja, quando estão manifestados, demonstram gratidão, humildade e amor aos seus filhos e aos membros da comunidade. Quando ele se abaixa é em sinal de estar colocando seu filho aos cuidados daquele determinado sacerdote, que defende e se dedica a cuidar do seu filho.
- As danças são ensinadas ou eles já vem com elas?
Nossa religião, ficou muito tempo sendo passada apenas oralmente e para guardamos nossa língua e nossa história, usávamos a dança para passar o conhecimento para futuras gerações, por isso parece tão coreografada, é mais uma herança de um povo que foi escravizado e lutou para manter a cultura e religião de seus ancestrais.

Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira

Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira

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veronica maia · Brasília, DF
2/9/2007 · 33 · 5

O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
Verônica Lemos de O. Maia*


A Lei 10.639, de 2004, institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Determina também a inclusão da Educação das Relações Étnico-Raciais nas instituições de ensino superior, nos conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos cursos que ministram e o tratamento de questões e temáticas que dizem respeito aos afro-descendentes.

A meta dessa Lei é promover a educação de cidadãos atuantes e conscientes no seio da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil para buscar relações étnico-sociais positivas à uma nação democrática.
Os objetivos da Educação das Relações Étnico-Raciais são a divulgação e produção de conhecimentos, de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam a todos o respeito aos direitos legais e a valorização de identidade. E também, a valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, européias, asiáticas e reconhecimento da história e da cultura dos afro-brasileiros.
A Lei recomenda a obrigação dos sistemas de ensino de proverem condições materiais e financeiras com materiais didáticos necessários para tornar práticos seus preceitos. E indica movimentos civis organizados e instituições que possam ser consultados sobre conteúdos e metodologias úteis para a aplicação da Lei. Ela reafirma uma posição de combate ao racismo e à discriminação, de acordo com a nossa Constituição.

Para qualquer educador que tenha juízo e seja realista, essa Lei significará principalmente um chamado ao trabalho, pois sabemos que o Estado ainda não poderá prover o sistema de ensino com os meios necessários para dar plena eficácia à Lei. Pode até parecer difícil, à primeira vista, saber como e por onde começar. Mas, diante da montanha de fatos, personagens e circunstâncias históricas que têm sido negligenciados como conhecimento ao longo da história da Educação no Brasil, essa dificuldade é só aparente. Ao começarmos a tratar do tema vamos descobrir um outro país.

A história do Brasil e a formação do povo brasileiro foram de tão reduzidas a esquemas simplificados no dia a dia das escolas que nossos alunos chegam a terminar o Ensino Superior sem conhecer a História do Brasil. Nada, ou quase nada, estudamos sobre a política portuguesa de povoamento da colônia, que estimulava a mestiçagem para acelerar a ocupação das terras; ou sobre a resistência indígena ao formato hierarquizado das populações dominadoras; ou sobre a política de estado praticada por alguns reinos africanos que institucionalizaram a venda e a exportação de escravos negros; ou sobre a força antiabolicionista dos republicanos no Brasil. Isso simplesmente não é visto nas escolas. Repetimos expressões carregadas de significado histórico sem nem suspeitarmos disso, como aquela que diz que algo é “para inglês ver” e que se refere à burla da ordem baixada pelos ingleses de proibição do tráfico negreiro.

Às vezes estamos muito próximos de referências históricas importantes e não percebemos, nem tampouco nos alertam para isso na escola. Quando ouvimos O Guarani, de Carlos Gomes, na abertura da Hora do Brasil, por exemplo, é sem saber que o nosso mais conhecido compositor erudito era neto de uma escrava fôrra. Também não nos damos conta de que o nome Rebouças que batiza viadutos e avenidas nas maiores cidades brasileiras homenageia o sobrenome de uma ilustre família de políticos baianos negros, do século XIX, cujos membros foram importantes engenheiros: os irmãos André e Antônio Pereira Rebouças Filho, construtores de ferrovias e obras de grande porte.

Conhecer melhor sobre os afro-descendentes que fogem ao estigma da escravidão mais do que saciar curiosidades, nos ensina que, desde cedo, esse brasileiros impuseram, com sua existência, o fato de que a cor jamais os condenou à inferioridade intelectual. Apesar do ambiente que lhes era desfavorável eles alcançaram admiração e respeito assim como muitos outros que lutaram pela conquista de seu espaço.

O que vamos encontrar na busca de fazer a Lei 10.639 ser colocada em prática são personalidades, revoltas, movimentos relevantes na História do Brasil cujas origens negras foram escamoteadas, omitidas e até veementemente negadas pela ideologia de valorização do “branqueamento” de afro-descendentes que prevaleceu até recentemente na visão eurocêntrica praticada no Brasil.

Nas palavras do antropólogo Marcel Mauss: “o escravo não tem personalidade. Não tem corpo, não tem antepassado, nem nome, nem cognome, nem bens próprios. O escravo, entendido como corpo sem persona é, por definição, o próprio vazio social.” (1)

Destituído da condição humana, o escravo tornou-se invisível como pensamento e como sentimento. Falar de cultura negra afro-descendente no Brasil, por muito tempo, foi falar do passado e da escravidão. Sobre as atrocidades da escravidão ouvimos muito, pois felizmente elas têm sido amplamente reconhecidas e divulgadas. Por outro lado, pouco sabemos sobre a resistência, a sofisticação, o combate à exploração, à segregação, à discriminação social. São pontos altos na história e na cultura brasileiras e merecem que os conheçamos. É aqui que todas as alternativas estão em aberto para os educadores a partir da Lei 10. 639.

Se no Brasil não fomos educados como uma nação multicultural e pluriétnica, precisamos concentrar esforços para ampliar o olhar para além do negro escravo e reconhecer o valor daqueles afro-descendentes em âmbitos como a literatura, a música, as artes cênicas, as artes plásticas, as ciências, a medicina, o jornalismo, a diplomacia, a guerra, a política, a religião. É o conhecimento da história real que, enfim, ainda precisamos resgatar. Há dezenas de personalidades, passagens históricas e obras relacionadas à cultura afro-descendente que, se conhecidas, mudarão a perspectiva que temos sobre o povo brasileiro e que foram construídas com explícita parcialidade e má fé pela historiografia oficial. A Lei 10.639 nos oferece um caminho possível para sairmos dessa situação e lançarmos um olhar positivo sobre a nossa herança afro-descendente.

O historiador e romancista Joel Rufino dos Santos, no prefácio de A mão afro-brasileira – Significado da contribuição artística e histórica , questiona:

O que sucederá – ponhamos como hipótese – se um grupo de pesquisadores recensear criteriosamente a produção da mão, do cérebro e da alma negras na construção da civilização brasileira, exibindo como negro quem negro foi?
Não só tornará o negro irremediavelmente visível, alçando-o a representante do país, ao lado do branco, como contribuirá para uma nova definição de Brasil, convincente para as gerações atuais e mais adequada ao nosso ingresso no século XXI.”(2)

Mas não nos iludamos esperando que outros esquemas prontos cheguem até nós. Precisamos buscar referências, pesquisar, demandar, estudar, perceber o nosso entorno, ir além dos livros didáticos, observar e ouvir a expressão da vida e da cultura nas várias formas em que ela se apresenta em nosso meio. Os afrodescendentes criaram ativamente o ser brasileiro em sua resistência à escravidão. Ao olharmos a História do Brasil com essa perspectiva, estaremos praticando uma ação afirmativa para todos os cidadãos brasileiros.

Antônio Carlos Gomes (1836 - 1896) foi o mais importante operista brasileiro, com carreira de destaque principalmente na Europa. O primeiro brasileiro a ter suas obras apresentadas no Teatro Scala, de Milão. Nasceu pobre, em Campinas. Ficou conhecido com o nome de Nhô Tonico e assim assinava suas dedicatórias. Seus pais eram Manuel José Gomes, o Maneco Músico e Dona Fabiana Jaguari Gomes, a Nhá Biana. O pai, nascido mais de um século antes da Lei Aúrea, era filho da escrava liberta Antônia Maria e de pai desconhecido. Viveu até os seis primeiros anos com a mãe, agregada de casa de um senhor de engenho, aos sete anos foi entregue aos cuidados do Padre José Pedroso, quem o instruiu na música religiosa. Após a morte do Padre que o acolhera, Manoel José Gomes, casou-se com Maria Inocência do Céu, aos 20 anos. Dois meses depois foi abandonado. Mudou-se para São Paulo, para continuar os estudos musicais com mestres de capela. Casa-se com Nhá Biana com quem já vivia e tinha os filhos José Pedro de Santana Gomes e Antônio Carlos Gomes.Compõe, leciona música e forma com os filhos uma banda musical.
É na banda do pai que Carlos Gomes realiza as primeiras apresentações em bailes e concertos. Aos quinze anos já compõe valsas, quadrilhas e polcas; aos dezoito anos, compõe a Missa de São Sebastião, repeleta de misticismo e dedicada ao pai. Entre as peças que compôs para o piano, está A Caiumba - dança de negros, inspirada na congada. Essa obra inicia o pré-nacionalismpo brasileiro. O jovem Carlos Gomes alternava o tempo entre o trabalho numa alfaiataria e o aperfeiçoamento dos estudos musicais. Ao completar 23 anos, já apresentara vários concertos com o pai e dedicava-se cada vez mais ao estudo das óperas.
Já era conhecido em São Paulo, onde já se apresentava freqüentemente. Compôs o Hino Acadêmico da Faculdade de Direito, ainda hoje cantado. Ali recebeu os mais amplos estímulos para que ele seguisse para a Corte, onde poderia aperfeiçoar-se no Conservatório de Música. Foi para o Rio de Janeiro sozinho, de burro e navio. Revelou seu talento de compositor e obteve o apoio do Diretor do Conservatório e do Imperador D. Pedro II. Daí partiu para estudos na Europa e consolidou sua carreira.
Em sua obra Carlos Gomes privilegiou o tema da luta pela liberdade. É o que pode ser conferido nas óperas Joana de Flandres, O Guarany, Salvatore Rosa, Maria Tudor e O Escravo, que abordam o tema.
Após décadas de grande sucesso, por conta de sua ligação com o Imperador e a Princesa Isabel, veio a ser desprezado no Brasil pelos círculos republicanos após o exílio da Família Real. Uma longa enfermidade e um profundo desgosto levaram-no a falecer em 1896, em Belém do Pará. Ele havia sido convidado a voltar para o Brasil para dirigir o conservatório recém criado pelo Governador Lauro Sodré, quem por último o apoiou.

Para conferir:
André Pinto Rebouças (1838 -1898) foi um engenheiro e abolicionista brasileiro, assim como seu irmão Antônio Pereira Rebouças Filho (1839 -1874). Os irmãos Rebouças ganharam fama no Rio de Janeiro, então Capital do Império. André, ao solucionar o problema de abastecimento de água, trazendo-a de mananciais fora da cidade; Antônio, ao construir as estradas de ferro de Campinas a Limeira e a Rio Claro e de Curitiba a Paranaguá e a rodovia de Antonina a Curitiba, elevada sobre a Serra do Mar. Ao lado de Machado de Assis e Olavo Bilac, foram representantes da classe média brasileira com patente ascendência africana e umas das vozes mais importantes em prol da abolição da escravatura. Incentivaram a carreira de Carlos Gomes, autor da ópera O Guarany.

Eram filhos de Antônio Pereira Rebouças (1798 -1889), advogado, deputado, conselheiro de D. Pedro II e Carolina Pinto da Silveira. Seus avós por parte de pai eram um alfaiate português e uma escrava alforriada, Rita Basília dos Santos. Dessa união nasceram nove filhos, quatro homens. José, o mais velho, obteve o título de mestre em Harmonia pelo Conservatório de Música de Bolonha e foi Maestro da Orquestra do Teatro de Salvador; Manuel tornou-se funcionário da Justiça em Salvador; Maurício bacharelou-se em Artes e Ciências e Doutorou-se em Medicina, em Paris. Foi catedrático de Botânica e Zoologia na Escola de Medicina da Bahia. Antônio, não se dedicou ao estudo superior por opção e também pelo fato de não existir faculdade de Direito em Salvador. No auge da luta pela Independência do Brasil, em 1822 ajudou na organização da força de resistência ao domínio das Cortes Portuguesas em Salvador. Em 1823, quando D. Pedro I passou pela Bahia, foi condecorado com o título de Cavaleiro Imperial da Ordem do Cruzeiro. Foi Secretário de Governo da Província de Sergipe, Deputado para a Assembléia Geral do Governo e Conselheiro Geral da Província. Após anos de trabalho como rábula, conquistou o direito de advogar por determinação imperial. Definia-se como representante da população mulata brasileira, em sua vida parlamentar pregou a inserção deste grupo no conselho da Coroa, visto que, da mesma forma que nas côrtes portuguesas houvera distinção entre os naturais de Portugal e os do Brasil, era conveniente ao país conhecer a opinião de todos os brasileiros objetivando assegurar a unidade nacional.

André e Antonio Rebouças transferiram-se com a família para o Rio de Janeiro em 1846. Lá estudaram português, caligrafia e matemática elementar, fizeram os estudos complementares e serviram como voluntários no 1º Batalhão de Artilharia a pé. Ingressaram na Escola Militar de Aplicação, atual Faculdade de Engenharia da UFRJ e estudaram teoria e prática em Engenharia Civil, por dois anos, na Europa. Partiram com os vencimentos de estudantes da Escola Central e nessa ocasião visitaram instituições de ensino, obras, fábricas, arsenais e portos na França e na Inglaterra. De volta ao Rio de Janeiro iniciaram suas publicações de cunho técnico.

André esteve vinculado à carreira militar até 1866, alistou-se como voluntário na guerra do Paraguai. Por motivo de doença pediu sua exoneração do Exército e iniciou sua carreira de empresário com as obras da Alfândega do Rio de Janeiro. Foi Secretário do Instituto Politécnico e redator geral de sua revista. O Instituto Politécnico durou mais de sessenta anos e foi uma espécie de predecessor da Academia Brasileira de Ciências. André Rebouças atuou como membro do Clube de Engenharia e foi muitas vezes designado para receber engenheiros estrangeiros em suas visitas ao Brasil, por seus conhecimentos técnicos e fluência em inglês e francês. Participou da Associação Brasileira de Aclimação e defendeu a adaptação de produtos agrícolas não produzidos no Brasil, como o trigo, e o melhor preparo e acondicionamento dos produzidos daqui, para melhor concorrerem no mercado internacional. Foi responsável pela seção de Maquinas e Aparelhos na Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional. Ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Participou da Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora. Publicou diversos artigos em jornais contra a escravidão, em defesa da conciliação entre as classes, do trabalho assalariado e contra a injustiça para com o negro.
Monarquista convicto, Rebouças seguiu para o exílio com D. Pedro II. Percorreu alguns países da Europa, e seguiu para a África. Morou na Ilha da Madeira, onde permaneceu até suicidar-se em 1898.
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(1) Mauss, M. (1974). Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a noção de eu. Sociologia e antropologia, São Paulo: Edusp .
(2) A Mão Afro-Brasileira – Significado da Contribuição Artística e Histórica./ Emanoel Araújo (org) – São Paulo: Tenenge 1998. Copyright: Fundação Emílio Odebrecht. Publicação comemorativa por ocasião dos 100 anos da abolição da escravatura no Brasil.

* Verônica L. O Maia é graduada em Antropologia pela Universidade de Brasília; especialista em Arte, Educação e Novas Tecnologias. Atua como consultora para elaboração de projetos para ongs, artistas, empresas.
http://www.overmundo.com.br/overblog/ensino-de-historia-e-cultura-afro-brasileira

História da Umbanda - Caboclo das Sete Encruzilhadas

Zélio de Moraes, de viva voz (clique e ouça), nos conta a história da criação da Umbanda no Brasil.

http://www.paimaneco.org.br/filosofia/historia-da-umbanda



Pesquisa: Lucilia Guimarães e Eder Longas Garcia
Veja fotos da visita a Tenda Nossa Senhora da Piedade

Escrever sobre Umbanda sem citarmos Zélio Fernandino de Moraes é praticamente impossível. Ele, assim como Allan Kardec, foram os intermediários escolhidos pelos espíritos para divulgar a religião aos homens. Zélio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de abril de 1891, no distrito de Neves, município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Aos dezessete anos, quando estava se preparando para servir as Forças Armadas através da Marinha, aconteceu um fato curioso: começou a falar em tom manso e com um sotaque diferente da sua região, parecendo um senhor com bastante idade.

A princípio, a família achou que houvesse algum distúrbio mental e o encaminhou ao seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, Diretor do Hospício de Vargem. Após alguns dias de observação e não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu à família que o encaminhassem a um padre para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estivesse possuído pelo demônio. Procuraram, então, também um padre da família que após fazer ritual de exorcismo não conseguiu nenhum resultado.

Tempos depois Zélio foi acometido por uma estranha paralisia, para o qual os médicos não conseguiram encontrar a cura. Passado algum tempo, num ato surpreendente Zélio ergueu-se do seu leito e declarou: "Amanhã estarei curado". No dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava e que incorporava o espírito de um preto velho chamado Tio Antônio.

Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade. O Pai de Zélio de Moraes, Sr. Joaquim Fernandino Costa, apesar de não freqüentar nenhum centro espírita , já era um adepto do espiritismo, praticante do hábito da leitura de literatura espírita . No dia 15 de novembro de 1908, por sugestão de um amigo de seu pai, Zélio foi levado a Federação Espírita de Niterói. Chegando na Federação e convidados por José de Souza, dirigente daquela Instituição, sentaram-se à mesa. Logo em seguida, contrariando as normas do culto realizado, Zélio levantou-se e disse que ali faltava uma flor. Foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde realizava-se o trabalho.

Tendo-se iniciado uma estranha confusão no local, ele incorporou um espírito e simultaneamente diversos médiuns presentes apresentaram incorporações de caboclos e pretos velhos. Advertidos pelo dirigente do trabalho, a entidade incorporada no rapaz perguntou:

" Por que repelem a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Seria por causa de suas origens sociais e da cor?"

Após um vidente ver a luz que o espírito irradiava perguntou:

" Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome meu irmão?"

Ele responde:


Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim."

O vidente ainda pergunta:

" Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?"

Novamente ele responde;


Colocarei uma condessa em cada colina que atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei."

Depois de algum tempo todos ficaram sabendo que o jesuíta que o médium verificou pelos resquícios de sua veste no espírito, em sua última encarnação foi o Padre Gabriel Malagrida.

No dia 16 de novembro de 1908, na rua Floriano Peixoto, 30 · Neves · São Gonçalo · RJ, aproximando-se das 20:00 horas, estavam presentes os membros da Federação Espírita , parentes, amigos e vizinhos e do lado de fora uma multidão de desconhecidos. Pontualmente às 20:00 horas o Caboclo das Sete Encruzilhadas desceu e usando as seguintes palavras iniciou o culto:


Aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A prática da caridade no sentido do amor fraterno será a característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como mestre supremo Cristo".

Após estabelecer as normas que seriam utilizadas no culto e com sessões diárias das 20:00 às 22:00 horas, determinou que os participantes deveriam estar vestidos de branco e o atendimento a todos seria gratuito. Disse também que estava nascendo uma nova religião e que chamaria Umbanda. O grupo que acabara de ser fundado recebeu o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse as seguintes palavras:


Assim como Maria acolhe em seus braços o filho, a tenda acolherá aos que a ela recorrerem as horas de aflição; todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai".

Ainda respondeu perguntas de sacerdotes que ali se encontravam em latim e alemão. Caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas que havia neste local, praticando suas curas. Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras: "- Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá". Após insistência dos presentes fala:


Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nêgo".

Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde:


Minha caximba, nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque buscá".

Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de"Guia de Pai Antonio".

No outro dia formou-se verdadeira romaria em frente a casa da família Moraes. Cegos, paralíticos e médiuns que eram dado como loucos foram curados. A partir destes fatos fundou-se a Corrente Astral de Umbanda. Após algum tempo manifestou-se um espírito com o nome de Orixá Malé, este responsável por desmanchar trabalhos de baixa magia, espírito que, quando em demanda era agitado e sábio destruindo as energias maléficas dos que lhe procuravam.

Dez anos depois, em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, recebendo ordens do astral, fundou sete tendas para a propagação da Umbanda, sendo elas as seguintes:
Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia
Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição
Tenda Espírita Santa Bárbara
Tenda Espírita São Pedro
Tenda Espírita Oxalá
Tenda Espírita São Jorge
Tenda Espírita São Jerônimo

As sete linhas que foram ditadas para a formação da Umbanda são: Oxalá, Iemanjá, Ogum, Iansã, Xangô, Oxossi e Exu. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10.000 tendas a partir das acima mencionadas. Zélio nunca usou como profissão a mediunidade, sempre trabalhou para sustentar sua família e muitas vezes manter os templos que o Caboclo fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, que segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitar a ajuda monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele. O ritual sempre foi simples.

Nunca foi permitido sacrifícios de animais. Não utilizavam atabaques ou qualquer outros objetos e adereços. Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não utiliza em seu ritual até hoje. As guias usadas eram apenas as determinadas pelas entidades que se manifestavam. A preparação dos médiuns era feita através de banhos de ervas e do ritual do amaci, isto é, a lavagem de cabeça onde os filhos de Umbanda fazem a ligação com a vibração dos seus guias.

Após 55 anos de atividade, entregou a direção dos trabalhos da Tenda Nossa Senhora da Piedade a suas filhas Zélia e Zilméia, as quais até hoje os dirigem.

Mais tarde, junto com sua esposa Maria Isabel de Moraes, médium ativa da Tenda e aparelho do Caboclo Roxo, fundaram a Cabana de Pai Antonio no distrito de Boca do Mato, Cachoeira do Macacú·RJ. Eles dirigiram os trabalhos enquanto a saúde de Zélio permitiu. Faleceu aos 84 anos, no dia 03 de outubro de 1975.

Dia 16 de setembro de 2010, faleceu Dona Zilméia de Moraes, a única dos quatro filhos de Zélio de Moraes, fundador da Umbanda, que ainda estava encarnada. Fica mais órfã a Umbanda a partir de agora. Deixamos aqui nossa homenagem a essa querida e doce mãe de santo. Saravá!