Cyro José Leão*
O xamanismo é a mais antiga forma de conexão do homem com o Sagrado. Nos primórdios da humanidade, o homem descobriu que tinha o poder de “despertar” do estado de inconsciência, tal qual vive um recém-nascido. Detinha o poder de sair do corpo e entrar no mundo da alma. Entrar em contato com o arquétipo do divino: a Deusa, o Deus e a Tudo que é o despertar da consciência. Passa a ter livre acesso à Deusa e a receber os conhecimentos necessários para seu povo. Surge, então, o xamã mítico, que passa a ser o primeiro curador na sua comunidade. Na medida em que as doenças apareciam, com a intervenção da Grande Deusa, ele recebia o conhecimento da cura.
Os rituais sagrados se iniciam e são celebrados pelo xamã, o primeiro religioso. É uma época em que as pessoas acreditavam que a lua era detentora do poder da vida e da morte, pois pensavam que o sangue menstrual era o responsável pela gravidez e o mesmo sangue, quando se esvaía, era o detentor da morte. Com o decorrer do tempo, passaram a fazer sacrifícios de sangue para fertilizar a terra. Era a época do matriarcado. Milênios se passam. O das Deusas se vai e chega o patriarcado.
Lenda siberiana
A origem do xamã, segundo uma lenda siberiana, se deu num momento de caos total na terra. E o ser Supremo envia a Águia para colocar um pouco de ordem. Por ser um pássaro, ela não é compreendida pelos humanos. A Águia (símbolo da consciência) encontra uma mulher (identificada como liberdade) sob a copa de uma árvore, copula com ela e daí nasce o primeiro xamã.
A palavra xamã deriva do dialeto tungu-saman, do sânscrito – sramana e do páli – samana e significa “o homem inspirado pelos espíritos”.
Apesar de o xamanismo ter sido um acontecimento do re-ligare com o arquétipo do divino, não é uma religião, e sim uma filosofia de vida, que ressurge neste século.
Mircea Eliade, em sua obra O xamanismo e as técnicas arcaicas de êxtase, evidenciou a perspectiva dos xamãs e descreve ritos na Sibéria, América do Norte, América do Sul, Indonésia, Oceania etc. De acordo com o autor, os xamãs são eleitos e por isso têm acesso a uma região do Sagrado, inacessível a outros membros da comunidade, e de algum modo cuidam da alma desta. O xamã é o grande especialista da alma humana. Só ele a vê, pois conhece sua forma e seu destino.
Xamãs urbanos
Em 1960, inicia-se o movimento do retorno ao xamanismo, quando figuras como Carlos Castanheda e Michael Harner, ambos antropólogos, publicam as primeiras manifestações científicas sobre o fenômeno. Michael Harner é iniciado como xamã nos andes equatorianos por uma xamã jivaro. A partir desse momento, ele começa sua caminhada de trazer ao mundo moderno os conhecimentos tão antigos e arquivados em nossa memória. Passa a difundir seu trabalho nas universidades norte-americanas, principalmente na Universidade de Columbia. Através de uma fita cassete, ele leva o som do tambor a seus alunos, que entram em estado alterado de consciência xamânica. É o despertar dos neoxamãs, também chamados xamãs urbanos que praticam os conhecimentos nativos na selva de pedra.
O que é o xamanismo?
O xamanismo é acima de tudo uma técnica de ampliação da consciência e pode ser praticada por todos os credos. Sendo um caminho de busca, prevê uma disciplina teórica e prática. No que diz respeito à teoria, vamos buscá-la com xamãs, anciãos, homens e mulheres sábias, e leitura de textos de autores variados, embora a tradição tenha sido sempre oral, há pouco tempo foi passada para o papel.
A teoria é referendada pela prática de jornadas iniciativas, rituais, e viagens xamânicas, em que ao som do tambor, o xamã conduz o aprendiz, com uma intenção clara de entrar num leve estado alterado de consciência xamânica, que está gravado em nossa memória arcaica ou em nossas fitas de DNA. O xamanismo é o retorno do Sagrado nos dias de hoje e consolida a sua razão de ser através de rituais e celebrações.
Ritos e celebrações
Temos algumas celebrações importantes: rituais da lua cheia (reverência ao feminino e à intuição) e rituais da lua nova (alguns grupos fazem apenas com homens).
Os ritos de passagem são muito importantes nas tradições antigas e são ainda preservados entre os indígenas. Dos 13 aos 14 anos, o menino deixa de ser criança e torna-se homem num ritual para o novo guerreiro e a menina torna-se mulher quando recebe seu primeiro sangue (a primeira menstruação).
A mudança das estações é fundamental, pois marca o término de um ciclo e o início de outro. É a morte de uma estação e o renascimento da outra. O equinócio da primavera (23 de setembro) e o do outono (21 de março) são regidos pelo sol e, neste período, as horas do dia são iguais às da noite. No solstício de inverno (21 de junho), temos a noite mais longa do ano e, no de verão, o dia mais longo do ano.
A preservação da natureza
Um dos pontos fortes do xamanismo é a preservação ambiental, e sua missão está em conscientizar o homem e a mulher modernos da sua responsabilidade no trato da mãe terra, que é a grande provedora. Sua força e medicina está em manter o equilíbrio entre os quatro elementos da natureza: a terra, o ar, a água e o fogo. Quando estes elementos estão em desarmonia, temos as catástrofes, tais como inundação, terremotos, maremotos, furacões, queimadas, efeito estufa, calor excessivo etc.
Por intermédio desse movimento, vemos nos últimos tempos uma busca incessante da preservação da natureza. De todos os lados do planeta, assistimos a manifestações, passeatas, campanhas e eventos pedindo a cura do planeta, o controle da poluição, a economia da água, pois os recursos naturais estão se acabando e, se os humanos não acordarem para a sua recuperação, o que será das gerações futuras? Temos de fazer algo, e este algo é agora. Vamos em primeiro lugar equilibrar e cuidar da nossa ecologia interna para que isso possa refletir no equilíbrio da ecologia externa. E esta é uma das propostas do neoxamanismo.
Ética xamânica
A conduta ética dos neoxamãs ou xamãs urbanos é baseada em cinco leis fundamentais de valores morais, que seguem a ética do coração – o caminho do xamã nativo.
• Prática da impecabilidade do guerreiro (a ética do coração).
• Prática da entrega (confiar num Ser Supremo que proverá suas necessidades).
• Alcançar o máximo de eficiência com o mínimo de esforço (estar focado no que faz e praticar a disciplina do guerreiro).
• Prática do desapego (estar presente no aqui-agora deixando ir o passado e não se projetando ou vivendo no futuro).
• Sair da causa e efeito e passar a viver a sincronicidade.
A filosofia é simples, mas depende de cada um querer seguir o seu caminho. Um deles é o do coração e é maravilhoso perceber que todos nós temos esse herói interno que está a serviço da cura e da religiosidade (do re-ligare) e pode ser acessado a qualquer tempo.
* Psicólogo, especialista em terapia floral, atendimento individual; ministra cursos e palestras, especialmente sobre vivência em xamanismo.
Os rituais sagrados se iniciam e são celebrados pelo xamã, o primeiro religioso. É uma época em que as pessoas acreditavam que a lua era detentora do poder da vida e da morte, pois pensavam que o sangue menstrual era o responsável pela gravidez e o mesmo sangue, quando se esvaía, era o detentor da morte. Com o decorrer do tempo, passaram a fazer sacrifícios de sangue para fertilizar a terra. Era a época do matriarcado. Milênios se passam. O das Deusas se vai e chega o patriarcado.
Lenda siberiana
A origem do xamã, segundo uma lenda siberiana, se deu num momento de caos total na terra. E o ser Supremo envia a Águia para colocar um pouco de ordem. Por ser um pássaro, ela não é compreendida pelos humanos. A Águia (símbolo da consciência) encontra uma mulher (identificada como liberdade) sob a copa de uma árvore, copula com ela e daí nasce o primeiro xamã.
A palavra xamã deriva do dialeto tungu-saman, do sânscrito – sramana e do páli – samana e significa “o homem inspirado pelos espíritos”.
Apesar de o xamanismo ter sido um acontecimento do re-ligare com o arquétipo do divino, não é uma religião, e sim uma filosofia de vida, que ressurge neste século.
Mircea Eliade, em sua obra O xamanismo e as técnicas arcaicas de êxtase, evidenciou a perspectiva dos xamãs e descreve ritos na Sibéria, América do Norte, América do Sul, Indonésia, Oceania etc. De acordo com o autor, os xamãs são eleitos e por isso têm acesso a uma região do Sagrado, inacessível a outros membros da comunidade, e de algum modo cuidam da alma desta. O xamã é o grande especialista da alma humana. Só ele a vê, pois conhece sua forma e seu destino.
Xamãs urbanos
Em 1960, inicia-se o movimento do retorno ao xamanismo, quando figuras como Carlos Castanheda e Michael Harner, ambos antropólogos, publicam as primeiras manifestações científicas sobre o fenômeno. Michael Harner é iniciado como xamã nos andes equatorianos por uma xamã jivaro. A partir desse momento, ele começa sua caminhada de trazer ao mundo moderno os conhecimentos tão antigos e arquivados em nossa memória. Passa a difundir seu trabalho nas universidades norte-americanas, principalmente na Universidade de Columbia. Através de uma fita cassete, ele leva o som do tambor a seus alunos, que entram em estado alterado de consciência xamânica. É o despertar dos neoxamãs, também chamados xamãs urbanos que praticam os conhecimentos nativos na selva de pedra.
O que é o xamanismo?
O xamanismo é acima de tudo uma técnica de ampliação da consciência e pode ser praticada por todos os credos. Sendo um caminho de busca, prevê uma disciplina teórica e prática. No que diz respeito à teoria, vamos buscá-la com xamãs, anciãos, homens e mulheres sábias, e leitura de textos de autores variados, embora a tradição tenha sido sempre oral, há pouco tempo foi passada para o papel.
A teoria é referendada pela prática de jornadas iniciativas, rituais, e viagens xamânicas, em que ao som do tambor, o xamã conduz o aprendiz, com uma intenção clara de entrar num leve estado alterado de consciência xamânica, que está gravado em nossa memória arcaica ou em nossas fitas de DNA. O xamanismo é o retorno do Sagrado nos dias de hoje e consolida a sua razão de ser através de rituais e celebrações.
Ritos e celebrações
Temos algumas celebrações importantes: rituais da lua cheia (reverência ao feminino e à intuição) e rituais da lua nova (alguns grupos fazem apenas com homens).
Os ritos de passagem são muito importantes nas tradições antigas e são ainda preservados entre os indígenas. Dos 13 aos 14 anos, o menino deixa de ser criança e torna-se homem num ritual para o novo guerreiro e a menina torna-se mulher quando recebe seu primeiro sangue (a primeira menstruação).
A mudança das estações é fundamental, pois marca o término de um ciclo e o início de outro. É a morte de uma estação e o renascimento da outra. O equinócio da primavera (23 de setembro) e o do outono (21 de março) são regidos pelo sol e, neste período, as horas do dia são iguais às da noite. No solstício de inverno (21 de junho), temos a noite mais longa do ano e, no de verão, o dia mais longo do ano.
A preservação da natureza
Um dos pontos fortes do xamanismo é a preservação ambiental, e sua missão está em conscientizar o homem e a mulher modernos da sua responsabilidade no trato da mãe terra, que é a grande provedora. Sua força e medicina está em manter o equilíbrio entre os quatro elementos da natureza: a terra, o ar, a água e o fogo. Quando estes elementos estão em desarmonia, temos as catástrofes, tais como inundação, terremotos, maremotos, furacões, queimadas, efeito estufa, calor excessivo etc.
Por intermédio desse movimento, vemos nos últimos tempos uma busca incessante da preservação da natureza. De todos os lados do planeta, assistimos a manifestações, passeatas, campanhas e eventos pedindo a cura do planeta, o controle da poluição, a economia da água, pois os recursos naturais estão se acabando e, se os humanos não acordarem para a sua recuperação, o que será das gerações futuras? Temos de fazer algo, e este algo é agora. Vamos em primeiro lugar equilibrar e cuidar da nossa ecologia interna para que isso possa refletir no equilíbrio da ecologia externa. E esta é uma das propostas do neoxamanismo.
Ética xamânica
A conduta ética dos neoxamãs ou xamãs urbanos é baseada em cinco leis fundamentais de valores morais, que seguem a ética do coração – o caminho do xamã nativo.
• Prática da impecabilidade do guerreiro (a ética do coração).
• Prática da entrega (confiar num Ser Supremo que proverá suas necessidades).
• Alcançar o máximo de eficiência com o mínimo de esforço (estar focado no que faz e praticar a disciplina do guerreiro).
• Prática do desapego (estar presente no aqui-agora deixando ir o passado e não se projetando ou vivendo no futuro).
• Sair da causa e efeito e passar a viver a sincronicidade.
A filosofia é simples, mas depende de cada um querer seguir o seu caminho. Um deles é o do coração e é maravilhoso perceber que todos nós temos esse herói interno que está a serviço da cura e da religiosidade (do re-ligare) e pode ser acessado a qualquer tempo.
* Psicólogo, especialista em terapia floral, atendimento individual; ministra cursos e palestras, especialmente sobre vivência em xamanismo.
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