Aquilo que fica restrito ao âmbito da indulgência, da política e da religião segundo os dicionaristas, pode se expressar amplificadamente ao universo cultural e social através de um vocábulo relativamente recente: “alteridade".
“Tentar compreender a alteridade, isto é, a relação com os/as outros/as, é um tema candente no cenário internacional contemporâneo. A xenofobia e o racismo, as guerras étnicas, o preconceito e os estigmas, a segregação e a discriminação baseadas na raça, na etnia, no gênero, na idade ou na classe social são todos fenômenos amplamente disseminados no mundo, e que implicam em altos graus de violência. Todos eles são manifestações de não reconhecimento dos/das outros/as como seres humanos cabais, com os mesmos direitos que os nossos.”
(Elisabeth Jelin - Cidadania e Alteridade: o reconhecimento da pluralidade)
Alteridade seria, portanto, a capacidade de conviver com o diferente, de se proporcionar um olhar interior a partir das diferenças. Significa que eu reconheço “o outro” também como sujeito de iguais direitos, É exatamente essa constatação das diferenças que gera a alteridade.
Os indivíduos têm sido continuamente condicionados a manter-se extremamente fixados na valorização das suas diferenças individuais: força, inteligência, raça, gênero, poder etc.
No sentido inverso à alteridade, a intolerância busca uma “solução”, de preferência imediata, para um problema e não um tratamento permanente, um caminho a ser seguido, principalmente com vistas a evitar sua repetição no futuro.
A intolerância, geralmente pela incapacidade de perceber o universo de inter-relações sociais e culturais determinantes de uma dada situação, exige um culpado para satisfazer um erro.
“0 espírito de intolerância deve estar apoiado em razões muito más, já que por toda parte busca os menores pretextos.”
(Voltaire - Tratado Sobre a Tolerância)
O “não” é um vocábulo absoluto, sempre objetivo e peremptório, que exclui maiores interpretações. Ao contrário, o “sim” é uma abertura para o manejo de uma idéia. para a prática de uma relação.
“Como a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria, dos santos, assim a tolerância é sabedoria e virtude para aqueles que – todos nós – não são uma coisa nem outra.”
(André Comte-Sponville – Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)
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