sábado, 2 de fevereiro de 2013

A Doutrina Espírita e o filme A Viagem (Parte II)


http://filosofiaespirita2.blogspot.com.br/2013/01/a-doutrina-espirita-e-o-filme-viagem.html

Olhando apenas dois ângulos sobre os quais me ative a falar na postagem anterior, sobre a concepção de reencarnação e a de liberdade, em que se aproxima e em que se afasta o filme da doutrina?

Realmente acredito que no conceito de reencarnação do filme a alma mantém sua individualidade, embora não o corpo. As reminiscências e as marcas de nascença (que o Espírito leva em seu perispírito) sinalizam isso. O herói de uma vida, mantém seu heroísmo em outra, embora em situação diferente. 

O que parece estanque, e que no Espiritismo é mais dinâmico, é a condição dos maus. Que os Espíritos bons continuem bons, é o que acreditamos, e mais, que progridem ao ótimo e assim por diante. Mas, que os maus se perpetuem no vício, é o que negamos. Todos os Espíritos se movimentam rumo a reconciliação com o bem universal. A maldade de um indivíduo também é prisão da qual ele é incitado a se libertar. O ator Hugo Weaving assume o papel de vilão repetidas vezes sem uma nesga de arrependimento que para o Espiritismo é o primeiro passo da iluminação a fim de escapar do círculo de vício moral e da dor por ele provocada.

Os irmãos Wachowski investem no tema da liberdade como atributo maior do ser humano. É o que o define. Tanto é que mesmo "não nascendo de útero", concebida por máquinas, o que fez o espectador entender como humana a garçonete japonesinha foi exatamente ela conseguir se libertar do condicionamento da “ordem natural” a que foi submetida desde sua fabricação e questionar os valores que a circundavam. 

Para o Espiritismo a liberdade e a libertação são definitivamente importantes, mas não ilimitadas. Por exemplo, o que poderia levar a um espírita estranhar o suicídio de um dos “heróis da libertação” é o fato de em outra vida ele não ter vindo com seqüelas em seu corpo, mas ainda perfeitamente livre e apto a lutar por mais liberdade.

A dor cerceia a liberdade de quem não a soube utilizar em qualquer outro momento da existência, proporcionando ao Espírito a lição não de como ser infinitamente livre, mas de como ter uma boa liberdade. 

Filosoficamente coerente é essa posição. Não digo verdadeira, pois isso é ponto de discussão litigioso, mas coerente. Se Deus existe (e o dogma da existência de Deus abre afirmativamente a filosofia espírita), diz Sartre, não há como o homem ser completamente livre, pois desde o princípio seus atos se destinam a cumprir a vontade de Deus em sua vida. Como a existência da tesoura se destina a cumprir a vontade de quem a fabricou: cortar.

Não é por não sermos totalmente livres que não somos completamente livres. A liberdade completa do Espírito a que se destinará todas as criaturas está condicionada a limitação do ser criado. Este não pode acessar a essência do Criador que sempre lhe será maior. Mas, as múltiplas existências, infinitas ao nosso ver, apontam um futuro cuja liberdade não é menor do que a maior liberdade que possamos conceber. 

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