No último 10 de novembro o professor Gilbraz Aragão fez a conferência de abertura do IX Colóquio de História da UNICAP, cuja temática geral foi “Tolerância religiosa: realidades, desafios e perspectivas”. Na conferência, intitulada “Da intolerância religiosa ao diálogo trans-religioso”, comentou alguns fatos locais e internacionais que desafiam, na prática e na teoria, o exercício crítico da convivência multirreligiosa. Seguem as suas palavras:
“… Cresce a intolerância religiosa no Brasil. Segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o Disque 100 recebe uma denúncia a cada três dias por intolerância religiosa. Entre os anos 2011 e 2014 foram registradas mais de 500 ocorrências pelo serviço disque denúncia, a maioria envolvendo o Povo de Santo das religiões afro-brasileiras, com cultos de imprecações cristãs contra os seus Terreiros e agressões aos seus símbolos e aos seus membros.
Mas o contrário da intolerância não é a tolerância. Tolerância tem a ver com a primeira onda dos Direitos Humanos (do Iluminismo de Locke e Voltaire), que antecedeu a sua Declaração Universal, quando já estamos hoje no seu quinto ciclo, dos direitos da era digital em um mundo interconectado e inspirado pela teoria da complexidade, em que diálogo e coexistência apontariam melhor o caminho das relações interculturais e trans-religiosas.
A tolerância fundada na identidade representa a atitude do conquistador e colonizador, que vê os diferentes como inferiores, ainda que úteis, e a absolutização da identidade está presente em posturas fundamentalistas de caráter político, religioso, ideológico. A tolerância fundada na diversidade relativiza todos os valores culturais e, nesse caso, não existem limites para a tolerância, não existe o intolerável. Por isso, há tentativas de ressignificação do conceito e mesmo buscam-se novos conceitos.
(…) Precisamos aprender a tolerar comportamentos humanos e expressões simbólicas diferentes e, mais que isso, somos chamados a nos educar para a passagem do mero suportar ao compreender e respeitar. As visões de mundo e rituais religiosos são como um arco-íris, em que cada um pode embelezar a sua cor, mas consciente de que ela vai aparecer ainda mais bonita dentro do espectro das colorações do mundo, que se originam da mesma luz, transcendente. Quem sabe, já é tempo de ensaiarmos uma ciranda das culturas, com sons diferentes para sonhos iguais, e um silêncio no centro que nos abra para uma palavra diferente e que cause diferença em nossas vidas, na direção do respeito cuidadoso pelo irmão…”
Veja o texto completo por aqui
e abaixo a apresentação de slides:
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O professor voltou a tratar da temática em entrevista junto com Edson Araújo, sacerdote da Umbanda que sofreu violência em ônibus do Recife por conta de sua fé. A conversa foi no Programa Realidades da TV Universitária do Recife, que busca a formação de uma cultura de direitos humanos, cidadania e multiculturalidade, com apresentação de Marcelo Pelizzoli (UFPE). O programa vai ao ar pelo Canal 11 (ou aqui pela internet) no domingo 22 de novembro, às 20h.
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